CAPÍTULO I – Monadofilia Primeira, Maior e Menor
§ 1. Monadofilia é uma filosofia cristã que propõe o Amor pela Unidade, que é a forma do Ser. A filosofia é o amor pela sabedoria. O amor é o desejo que o amante tem pelo bem do amado. A sabedoria é o conhecimento do Bem, o conhecimento dos Princípios, o conhecimento do conhecimento, ou a Apercepção da Percepção, ou a consciência da consciência: ela informa o ser que conhece, que percebe ou que é consciente do valor e do sentido de sua experiência intelectual. Essa sabedoria, ainda indiferenciada e desqualificada, se apresenta apenas como um ideal amável pelo filósofo, pela inspiração que o conhecimento das verdades apodíticas (aletheia apodeixis) demonstradas inicialmente pela Geometria, e depois depuradas conceitualmente nas idéias de juízos analíticos a priori (Kant), ou juízos de razão (Leibniz), sugerem. Como a Sabedoria cristã é diferenciada e qualificada pelo conteúdo revelado do Evangelho, a filosofia cristã é o amor de quem ama a Sabedoria do Evangelho, de modo que tanto a premissa maior quanto a conclusão final são dadas antes do processo filosófico em si. Desta maneira a investigação filosófica cristã não tem como propósito descobrir o objeto do seu amor, que é o Evangelho, mas somente o motivo de porque ele é amável. Sendo o Intelecto humano gerado e sustentado pela Graça da iluminação pelo Intelecto divino, a filosofia cristã não vai modificar o seu praticante senão na sua qualidade de amante esclarecido de Deus, como uma forma de realização do Primeiro Mandamento, na descoberta do sentido da bondade da Sabedoria divina que a torna amável. Note-se que todas as filosofias indiferenciadas, ainda que não possuam necessariamente conclusões peticionadas em princípio, devem possuir necessariamente premissas declaradas como autoevidentes, ainda que não sejam necessidades metafísicas. A escolha do Evangelho como premissa da filosofia cristã é somente a aplicação intelectual do conteúdo da crença cristã que se coloca para o crente como autoevidente tanto quanto quaisquer outras crenças podem ser indefinidamente postuladas por outros tipos de filosofia na formulação de suas premissas. O privilégio cristão é o da escolha de confiar em Jesus Cristo que diz de si mesmo: “Eu Sou a luz do mundo, quem me seguir não andará mais nas trevas, mas terá a luz da vida“. Os filósofos que não querem ser cristãos podem ter seus próprios privilégios, mas estes lhes custam a decisão de ser indiferentes ou repelentes ao testemunho que Jesus dá de si mesmo, por sua própria conta e risco. Por fim, a Sabedoria do Evangelho revela a Unidade como forma do Ser por diversas declarações, especialmente na Revelação do Filho de Deus em sua relação com o Pai, e no Amor como Causa Final do Ser. Isso se coaduna com a necessidade ontológica da Substância Simples, ou Mônada, que corresponde metafisicamente como princípio intelectual necessário ao Primeiro Mandamento e a Revelação do Nome de Deus (EU SOU), contra todo tipo de mentira na forma das várias idolatrias. Além do testemunho de Deus através de Moisés em Êxodo 20, temos Jesus afirmando que “o Bom é um só“, e o apóstolo Paulo ensinando que “Nele somos, nos movemos e estamos“, entre outros exemplos que podem ser encontrados. O sentido da vida humana é encontrado na sua analogia, por imagem e semelhança, com o Ser divino, cujo Bem é encontrado em Si mesmo, e cujo bem particular que nos completa contingencialmente é informado pelo nosso Limite. Com a consciência da Unidade do Ser sendo eminentemente amável, todos os erros intelectuais e morais derivados de ignorância ou confusão gerados pela ilusão da Idolatria se desfazem. Como filosofia cristã, a Monadofilia se propõe, assim, como a melhor descrição da natureza da realidade e da condição da experiência humana.
§ 2. Sendo a Singularidade inefável senão para um Intelecto infinito (divino), a única relação possível do ser finito com o infinito é o de amor como contemplação, confiança e repouso, atos antes volitivos do que intelectuais. A Singularidade, ou Unicidade, é a qualidade de Absoluto e Infinito que Deus possui e que só Ele mesmo pode conhecer. Que exista o Infinito e o finito e a relação entre os dois é uma necessidade metafísica derivada da Percepção de qualquer contingente, já que sem Limite não há Percepção de formas discretas (conteúdos formais cuja primeira qualidade é a de participação no Ser e de formalização pelo Princípio de Identidade), e sem o Infinito não há atualidade possível a qualquer ser informado por um Limite. A operação do Intelecto é sempre garantida, do contrário não há sequer a Percepção da relação. O Uno, que transcende infinitamente, na sua completude, a capacidade de apreensão de um intelecto finito, só pode ser objeto de Amor e não de Gnose. O conhecimento sempre pode se expandir, da parte do intelecto finito, mas nunca alcança aquilo que só a vontade completa por sua crença voluntária sobre a essência da Unidade, especialmente na qualidade da Bondade. Daí o moto da Monadofilia ser “Coram Uno Amor Tantum” (“Diante do Uno, apenas o Amor”). A Unidade plenamente cognoscível ao ser contingente perderia sua essência e integridade, e se reduziria apenas a uma imagem do Ser da Unidade, como ocorre com as idolatrias da Natureza e do próprio Homem, por exemplo. O Uno só pode ser conhecido adequadamente, assim, através do amor que completa por desejo voluntário aquilo que o intelecto finito alcançou no seu Limite. Essa é uma aplicação direta das súmulas do Evangelho: “Ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar” (Mt 11:27), “Ninguém vem ao Pai a não ser por mim” (Jo 14:6), “A vida eterna é esta: que eles te conheçam, a ti, o único Deus verdadeiro, e àquele que enviaste, Jesus Cristo” (17:3), “Eu lhes dei a glória que me deste para que sejam um, como nós somos um: Eu neles e tu em mim, para que sejam perfeitos na unidade e para que o mundo reconheça que me enviaste e os amaste como amaste a mim” (Jo 17:22) e “Eu lhes dei a conhecer o teu nome e lhes darei a conhecê-lo, a fim de que o amor com que me amaste esteja neles e eu neles” (Jo 17:26).
§ 3. A Monadofilia se desdobra em três modos de experiência do amor. Concretamente antes de mais nada na forma de amor-próprio (Monadofilia Primeira) que descobre a amabilidade da Unidade como um eu e o limite contingenciado da sua capacidade de alcançar o seu bem; o amor a Deus (Monadofilia Maior, ou Primeiro Mandamento) que soluciona o limite interno do amor-próprio; e amor ao próximo (Monadofilia Menor, ou Segundo Mandamento) que reconhece no outro um eu tão amável e destinado ao amor a Deus quanto a do nosso eu próprio.
Todo amor é amor à Deus. Os objetos contingentes do amor são apenas veículos da Beleza divina, que contém exclusivamente toda a amabilidade possível. Assim, no amor próprio da Monadofilia Primeira descobrimos o amor a Deus na forma do amor pela própria integridade e amabilidade do eu. A integridade é percebida pela continuidade do sujeito diante da simultaneidade e da sucessividade das Percepções, e a amabilidade pela Apetição das Percepções. Amando em si a imagem e a semelhança a Deus, iniciamos a descoberta do amor a Deus. No caso do amor ao próximo, a idéia de que João ama Maria significa, elipticamente, que João ama a Deus na forma de Maria como reflexo de João (o sujeito percebe no objeto o reflexo de si como manifestação da qualidade da Unidade divina).
CAPÍTULO II – Liberdade Primeira (Contra a Libertinagem e o Costume)
O Costume, que protege contra o mal maior da escravidão da Libertinagem (o desejo da Liberdade sem a busca do Bem), se torna ele próprio uma forma de escravidão que aliena a verdadeira Liberdade que é a de não agir senão voluntariamente e de forma consciente e responsável. Livre não é quem faz tudo o que quer, e nem quem aliena sua vontade à uma vontade exterior, mas quem domina a própria vontade sem se deixar escravizar por nada, nem pelo desejo e nem pelo Costume. Livre é quem vive pela Graça, sem ser escravo nem do Pecado e nem da Lei. A prática do Costume gera a falsa segurança da autoimagem de um papel social em substituição à verdadeira liberdade, explorando a insegurança psicológica derivada da indeterminação da singularidade monádica, enquanto a alma ainda não possui a firmeza da confiança no Amor divino. O aceite voluntário dos pesos autoimpostos pela crença no valor benéfico dos costumes oprime a alma e a impede de considerar a verdade do Amor, já que a mentira dos falsos bens foi comprada ao caro preço de muitos sofrimentos e sacrifícios. Quem deseja contemplar as proposições da Monadofilia deve possuir tempo livre para estar desocupado em paz, para ser nutrido na liberdade e no ócio, o que não é possível sem o Realismo Responsável que aceita apenas a determinação dos Deveres de Estado, sem a invenção de ficções. A Filosofia não é um privilégio, mas uma responsabilidade. Exige a dispensa, pela liberdade anterior, às várias ambições que são contraditórias com a busca da verdade e o amor pela sabedoria divina. Requer a paciência de suportar a separação e, portanto a indiferença, o desprezo, etc. A nutrição a partir do Intelecto divino requer a abertura interessada que se baseia numa integridade moral que se reflete na honestidade, na entrega, na renúncia às glórias do mundo, etc. A liberdade primeira é interior, e depois exterior: liberdade contra as ilusões do mundo. Esta é uma experiência da guerra do Amor contra o Poder: a vitória do desejo de contemplar o Ser sobre o desejo de dominá-lo. Esse conflito já antecipa a superação da Dialética do Ouroboros que captura os instintos de obediência e rebelião para impedir a verdadeira Liberdade através, respectivamente, da escravidão da Libertinagem e do Costume.
CAPÍTULO III – Liberdade Segunda contra os bloqueadores da TMSB
Contra o Nada (Niilismo): A crença no não-ser, ou no Nada, é impossível desde que a sua consideração sempre parte de algo que tem alguma participação no Ser. Além disso, é necessário afirmar preliminarmente a bondade do Ser pelo corolário da razão de qualquer condenação possível do Ser: se seria melhor o não-ser, é porque algum ser possível seria mais conveniente, portanto o desejo pelo não-ser é o desejo pelo ser. Contra o Caos (Cacolatria): Impossibilidade de se validar a primazia do Caos desde um intelecto que só compreende o que é ordenado, além da improbabilidade de que de um plano superior menos ordenado, ou não ordenado, possa ter saído um plano inferior que tenha relativamente maior ordem interna, pela tendência decadencial de qualquer sistema (entropia). O Caos é um conceito derivado da recusa da Humildade diante da ignorância, gerando sobre o Ignorado, na perspectiva antropocêntrica, a projeção de um suposto elemento caótico por estar além do campo da nossa inteligibilidade. O mesmo ocorre, também psiquicamente, na projeção psicologista do chamado Inconsciente. A abordagem espiritualmente humilde (teocêntrica) do Ignorado é aquela que o trata não como Caos ou Inconsciente, mas como Mistério. Contra a Natureza (Naturalismo): Submissão de qualquer ordenamento de uma Lei Natural à uma instância transcendente que produza essa ordem sem ser limitada ou definida por ela. Inclui a escravidão aos psiquismos fatalistas de esquemas simbólicos como os da Astrologia, Psicologia, etc. As categorias aprendidas pela experiência das Causas Eficientes devem ser repensadas como modos contingentes de produção de seus efeitos, especialmente as categorias de Causalidade, Irreversibilidade e Escassez. As únicas Causas Eficientes necessárias devem ser aquelas imediatamente vinculadas à produção de efeitos que contenham bondade inerente nos objetos da Percepção, ou seja, à serviço exclusivo das Causas Finais. Evita-se, assim, a grande tentação da Idolatria naturalista que atribui falsamente bondade a qualquer manifestação que não seja inerente boa enquanto objeto de Percepção, e separa-se os meios contingentes das finalidades que se justificam eternamente, por exemplo: separação da propriedade nutritiva dos alimentos da satisfação do paladar, ou a separação da capacidade reprodutiva do uso dos órgãos sexuais para a satisfação do tato, etc. Contra o Homem (Humanismo, Antropolatria): Sendo o homem presente necessariamente ignorante, fraco e mau, em qualquer escala ou medida que seja, a sua forma substancial possui uma definição que é incompatível com qualquer ideal de passado ou de futuro que viole esse limite.
CAPÍTULO IV – A Mônada
Substância Simples: Unidade ontológica ou metafísica sem partes, necessária para qualquer composição possível de ser ou manifestação. Também chamada de Mônada. Relação entre o Uno e o Múltiplo: A Unidade, sendo a forma do Ser, possui como matriz, em sua singularidade, a potência infinita de qualquer ser derivado de sua substância, ou seja, de todas as formas da Multiplicidade.
CAPÍTULO V – Mônada Indiferenciada (Propriedades e Operações)
Intelecto-Percepção: A Mônada intelige, à partir da sua Unidade, a si própria como objeto de Percepção. Seu Intelecto produz a sua Percepção. Vontade-Apetição: Sendo o Bem a forma do Ser, A Mônada deseja perceber a si mesma. Sua Vontade produz a sua Apetição, que é o amor pelo que é bom.
CAPÍTULO VI – Mônada Incriada
Infinitude: Possui a infinita capacidade de realizar seu Intelecto e, portanto, também a sua Vontade. O Ser Infinito é necessário desde que qualquer ser seja evidenciado na sua contingência, desde que se o Limite que determina qualquer ser particular não pode fazer parte da sua Forma, deve haver uma Substância Primeira infinitamente em Ato que determina todos os demais possíveis, ou nenhum ser jamais seria atual. Suficiência: Realiza a Percepção e a Apetição em si mesma de forma total, e assim conhece e é conhecida em si mesma, e ama e é amada em si mesma (possui luz própria). Como tanto sujeito quanto objeto dos atos de conhecimento e de amor precisam ser reais, a suficiência da Mônada Incriada implica na constituição do Deus Triuno, Pai, Filho e Espírito Santo. Imobilidade: Realizando-se em si mesma plenamente, não se move da potência ao ato. Não muda porque não precisa mudar, de modo que toda atuação fora de si mesma é por total gratuidade (amor puro). Toda criação é absolutamente analógica, em nada modificando o Ser da Mônada Incriada, por existir cada qual em sua própria Singularidade exclusiva e separada. Sobre a suposta “existência” de Deus, do Ser divino não se predica a existência, pois esta é uma qualificação dos contingentes. Só pode ter existência o que pode não ter existência. De Deus se predica o Ser como descrição da essência, e não como propriedade acidental. Se assim não fosse não haveria a primeira causa, ou o primeiro termo, de tudo o que tivesse existência, e a série jamais seria atualizada pois regressaria ao infinito.
CAPÍTULO VII – Mônada Criada
Finitude: Possui Intelecto limitado, capaz de realizar uma Percepção limitada, tanto quanto uma Vontade limitada, capaz de produzir uma Apetição também limitada. Insuficiência: Não atualiza sua potência por si mesma, dependendo do movimento criativo da Mônada Incriada que realize sua Percepção e Apetição. Precisa ser criada e mantida em operação pela substância divina (não possui luz própria). Mobilidade: Por perceber e apetecer dentro de seu limite, move-se da potência ao ato de seu Intelecto e Vontade, produzindo sucessivas percepções que são também sucessivamente apetecidas. Gera em seu Intelecto as dimensões necessárias para a função da sucessividade, como tempo, espaço, etc.
CAPÍTULO VIII – Mútua Representação e Omniverso
Como não percebe nada fora do seu próprio reflexo, a iluminação divina garante, através de um equivalente à Harmonia Pré-estabelecida de um sistema mecanicista, a correspondência das percepções equivalentes para as mônadas criadas que participam de uma mesma realidade.
CAPÍTULO IX – Teleologia Metaracional do Sumo Bem (TMSB)
Admissão da conveniência intelectual do Bem como forma e causa final do Ser cuja demonstração é impossível desde que a Mônada Incriada não pode ter sua essência conhecida pela mônada criada, sendo portanto objeto de Vontade, antes do que do Intelecto, objeto de contemplação amorosa, e não de conhecimento. Dado, porém, que a forma substancial da própria mônada criada possui a Vontade que produz a Apetição, convém que o Ser corresponda a esta propriedade. Pelo autoconhecimento o ser criado reconhece no Incriado o que convém que dele seja postulado, ainda que jamais possa ser dominado, isto é, o seu amor criativo. Desse conceito derivamos o do Idealismo Transcendental que exige, pela combinação da TMSB com a Monadofilia Primeira, o imediato reconhecimento da tremenda limitação, corrupção e decadência da presente condição humana em face do ideal inspirado em nós pelo Espírito Santo.
CAPÍTULO X – Coruscância
A plenitude da realização da mônada criada, e o seu destino, é a perfeita adequação da sua Percepção à sua Apetição, e da sua Apetição ao que lhe convém (“querer o que de deve e ter o que se quer”), o que requer que a Mônada Incriada lhe propicie essa realização por comunhão com a sua infalibilidade. Isso é a vida eterna, ou paradisíaca, também chamada de Salvação: a sucessão ilimitada das percepções adequadas às apetições da mônada num estado de perfeição.
CAPÍTULO XI – Eleuteriodiceia
Como o estado paradisíaco da Coruscância requer a perfeição absoluta, sem defeito, é necessário que a mônada criada, por ter Vontade livre, queira realizar esse estado. Mas não é possível escolher livremente a Coruscância na própria experiência da mesma, que por ser sem defeito não poderia ser rejeitada livremente. Isso significa que a realização da Coruscância requer uma experiência prévia de um estado anterior de Mistura entre o Bem divino e a sua ausência, a imperfeição que chamamos de Mal (também chamada de Mistura de Luz e Trevas), na medida necessária para que a mônada criada conheça o seu próprio arbítrio de escolher o Bem divino como seu destino particular. A liberdade da mônada criada se completa na aceitação das realidades do Limite da sua forma substancial, da Mistura como condição da sua liberdade, e do Amor divino como causa final da sua existência.
CAPÍTULO XII – Razão Singular da Mistura Mínima e Arbitragem de Excesso de Mistura
RSMM: A medida necessária para que seja possível a uma mônada criada escolher o Bem divino é a sua Razão Singular de Mistura Mínima, que na teologia cristã equivale ao significado da Cruz. Esse é o peso mínimo de sofrimentos que a mônada criada precisa experimentar para que o autoconhecimento de seu arbítrio na escolha do Bem se complete. AEM: Para além da RSMM determinada pela Providência divina, é permitido que a mônada criada determine sua própria Arbitragem de Mistura Excessiva no autoconhecimento de sua Vontade. Se essa liberdade for retirada, a Coruscância não é possível. Assim como o excesso de Mistura não é conveniente, também não convém o julgamento do outro que está no uso dessa liberdade de acordo com a vontade divina.
CAPÍTULO XIII – Humildade contra a Pretensão
Reconhecimento do limite e da falibilidade que libera da mentira das falsas qualidades da mônada, especialmente força, bondade e sabedoria. Também chamado de Sacrifício de Comunhão.
CAPÍTULO XIV – Presença contra a Idolatria
Consciência da experiência total da vida diante da Mônada Incriada, voltada para a satisfação desse relacionamento em primeiro lugar e acima de tudo, libertando da mentira da subsistência de qualquer outra realidade fora dessa relação.
CAPÍTULO XV – Louvor contra a Sedução-Pacto com a Morte
Conversão do desejo de todos os bens particulares à adoração da sua fonte eterna na Beleza da Mônada Incriada, libertando de qualquer necessidade de experiência na contingência atual pela garantia do perpétuo usufruto da Beleza divina na Eternidade. Qualquer possível bem imediato se converte sempre na satisfação com a promessa da Herança divina. E não há bem apetecível que não possua sua essência preservada na Eternidade do Ser divino (Idealismo Transcendental).
CAPÍTULO XVI – Paixão contra o Terror-Pacto com o Inferno
Capacidade de suportar as consequências da experiência da Mistura pela confiança na bondade do decreto da sua finitude, libertando da ilusão de subsistência do Mal.
CAPÍTULO XVII – Soberania contra o Gnosticismo
Consciência da supremacia da Vontade com a finalidade da escolha de um Bem inefável, libertando da mentira de que por quaisquer conhecimentos contingentes se torne obrigatória qualquer crença sobre a qual a Vontade não possa arbitrar. O Livre-Arbítrio das mônadas criadas é tão importante para a pureza da escolha do seu destino eterno que toda a complexidade das causas materiais e eficientes foi produzida apenas para a sua arbitragem da crença na Presença ou na Idolatria. Essa é uma das “loucuras” de Deus que confunde os “sábios” e orienta os humildes, um tipo de segredo espiritual compartilhado apenas pelos amantes verdadeiros.
CAPÍTULO XVIII – Vigilância contra a Ingenuidade
Astúcia de separar a experiência da Mistura do seu significado espiritual, libertando das mentiras da legitimação da mesma; da adoração de qualquer “deus” que não possua a suficiência do Deus Triuno, que só pode ser falso por depender de uma criação para realizar sua forma por relacionamento, para conhecer e ser conhecido, e para amar e ser amado; do Pacto Ouroboros; da Dialética do Ouroboros (o exoterismo gnóstico da legitimação da Mistura e o esoterismo gnóstico da rejeição do Limite); e da tentação de participação no Sistema da Besta.
CAPÍTULO XIX – Discernimento contra o Psiquismo
Distinção da natureza espiritual das influências e sugestões que são acolhidas ou rejeitadas pelo arbítrio da mônada criada, libertando da mentira da causalidade psíquica sobre os movimentos da Vontade.
CAPÍTULO XX – Metareflexividade: Nitidez e Cristalinidade
Consciência gerada pela posse mais plena e contínua do dom da Presença que permite a apreciação da criatividade divina na determinação da qualidade dos objetos da Percepção (Nitidez), bem como da qualidade subjetiva do Intelecto percipiente (Cristalinidade). É a plenitude da Presença e da Soberania e a liberdade contra toda a mentira, respectivamente, da Idolatria e do Gnosticismo: vivemos apenas por Deus, que nos dá o bem percebido e a boa percepção. Deus está “nas duas pontas” da Percepção, no objeto e no sujeito. A Metareflexividade é a consciência disto.
CAPÍTULO XXI – Vida pela Graça: Sacramento do Momento Presente
CAPÍTULO XXII – Revisão Teológica (Adão-Jesus-Anticristo)
Adão: Decidiu trair o amor à Deus e usurpar a Criação através do Pacto Ouroboros (Pecado Original), ofertando a adoração da Serpente por toda descendência (Tradição Primordial) em troca da Gnose (conhecimento da Mistura). Caim: Decidiu trair o amor ao próximo (Abel), vingando-se contra a predileção do irmão que foi enganado pela Tradição Primordial. Set: Decidiu confiar na Tradição Primordial e reiterar indefinidamente o Pecado Original. Enoque: Decidiu viver na Presença, dispensando eventualmente a necessidade da experiência da Mistura e da morte. Noé: Decidiu reiniciar o Pacto Ouroboros por sua livre e espontânea vontade, sem necessidade intrínseca ou extrínseca. Abraão: Decidiu confiar na Aliança como promessa para a descendência carnal, misturando as Obras da Carne com as Obras do Espírito. Moisés-Aarão: Decidiu desconfiar do ordenamento divino, da obra de Separação, e reiterou a crença na salvação para a descendência carnal. Abriu o caminho para a tradição sacerdotal e religiosa pela interferência do irmão. Esaú-Saul: Decidiu confiar na unção humana e não na divina, como se pudesse ser virtuoso pela eleição do povo e trocar as Obras do Espírito pelas da Carne. Davi: Decidiu ser humilde, apesar de todos seus pecados. Salomão: Decidiu ser soberbo, apesar de toda sua sabedoria. Profetas: Decidiram testemunhar a verdade e denunciar a traição das Obras da Carne. Jesus: Deus decidiu tomar a forma humana para ensinar aos homens a amar. Encarnação: Humilhou-se como homem para mostrar a bondade de sua Criação e revelar a verdade definitivamente, isto é, a bondade da sua criação, e a pureza da vontade o Espírito Santo contra a impureza da vontade seminal do homem. Sua Encarnação é ao mesmo tempo a denúncia e a redenção do Pecado Original. Fé e Milagres: Confirmou e deu o testemunho da maldade humana da maioria que duvidou de sua bondade e só confiou no seu poder, e revelou a pureza da Fé do Filho em contraste com a impureza da fé dos escravos e dos mercenários. Cruz: Rasgou o véu do templo das mentiras dos homens, mostrou que Deus é bom, capaz de salvar até os que o assassinaram injustamente, e que o Acusador é apenas um espírito mentiroso e assassino, o falso deus dos templos oriundos da Tradição Primordial. Ressurreição: Mostrou novamente a bondade da sua Criação, e o sentido final da Salvação para todos os que crêem. O caminho é a Cruz, a verdade é a Morte das Obras da Carne (o Decreto divino de Gênesis 3), e a vida é a Ressurreição. Anticristo: Mistura da Revelação com a corrupção religiosa, especialmente dos quatro grandes erros do Cristianismo institucional: a) defesa da Tradição Oral contra a Soberania da consciência livre (Gnosticismo); b) defesa do Pecado Original como costume derivado de um mandamento divino; c) defesa do sacrifício de sangue como ritual instituído pelo Deus verdadeiro; d) defesa da doutrina da ameaça do Inferno para a opressão das consciências e fortalecimento da obra do Acusador. Particularmente o Cristianismo se configura como o Culto do Mashiach ben Yosef, servindo de preparação histórica para a conversão das massas à mentira do Falso Profeta e à sua Religião das Leis de Noé.
CAPÍTULO XXIII – Conceitos Sinóticos