
Para alguém que é muito rápido, o Flash infelizmente ainda foi muito lerdo para entender o sentido do que viveu em seu último filme (The Flash, por Andy Muschietti).
O único super-herói que faz sentido é aquele que disse de si mesmo: “aprendei comigo que sou manso e humilde de coração“. Mas lá vamos nós assistir gente vestida de palhaço fingindo que são capazes de salvar alguma coisa.
Por que as pessoas ainda têm paciência para assistir filmes como este?
Esta é uma boa pergunta, mas não é o nosso assunto imediato. Deve ser mais fácil eu dizer qual foi o meu próprio motivo: matar aquele que me mata, o tempo. E seria uma felicidade descobrir que o meu semelhante assistiu o filme mais ou menos pela mesma razão, o que não deve estar muito longe da verdade.
The Flash é mediano, não inspira grandes coisas além do tradicional arroz-com-feijão do sentimentalismo em torno da família, já que o personagem, Barry Allen, tem toda a sua vida definida por uma tragédia familiar que o fez perder a vida ordenada e feliz que ele achava que tinha, e que o faz imaginar a perda também de uma suposta boa vida que ele teria em tese perdido para sempre.
Barry trabalha como um remediador, e o tema do filme é a valorização dessa busca com o respeito a uma limitação final que o personagem deve descobrir à duras penas. Já que viaja no tempo, poderíamos imaginar que o herói esbarraria em algum paradoxo típico desse tipo de narrativa, mas ele encontra algo mais sólido e simples, que é a limitação ordenada por um Destino de origem desconhecida. Há coisas que Barry não pode mudar, por mais que tente de novo e de novo no pleno uso de seus poderes. A tentativa de forçar um resultado pessoalmente favorável leva o sujeito a reconhecer a sua própria transformação num vilão ou monstro, o que poderia ser melhor explorado pela desmoralização do juízo arbitrário desde um ponto de vista tão limitado, mas o filme não poderia chegar lá, sendo uma historinha de superhéroi. No fim Barry aceita a limitação e trabalha ao redor dela para remediar os fatos que conseguir dentro da sua competência, mas não percebe que ainda age naquele mesmo espírito de arbítrio, e portanto ignora qualquer design superior que tenha imposto aquelas limitações. Neste sentido, o inalterável é espiritualmente semelhante a qualquer outro paradoxo de filme de ficção científica: uma lei sem um legislador.
Não podemos recusar o desejo de justiça da parte de Barry, mas também não podemos ultrapassar a nossa própria noção definitiva de ignorância.
O filme acertaria, do ponto de vista espiritual, reconhecendo por trás da fraca (mas presente) noção de Destino uma maior deliberação divina na forma da Providência. Mas isso diminuiria a importância dos super-heróis, o que seria obviamente contraditório, para não dizer impopular com a proliferação da apostasia, talvez principalmente da parte do tipo de público que este produto cultural atinge. O Flash poderia ser humilde, mas continuou no seu papelzinho mequetrefe de mero remediador. Com toda sua velocidade parece não ter sido rápido o suficiente para chegar nas conclusões que lhe trariam a verdadeira paz e alegria.
Notas (de 0 a 10):
Valor EMD
Hipótese: P&A 3,0 (Sugestão Demoníaca)
| M. Maior – Gratidão/Soberba | 3 |
| M. Maior – Obediência/Rebelião | 2 |
| M. Menor – Perdão/Julgamento | 5 |
| M. Menor – Libertação/Sadismo | 5 |
| M. Primeira – Liberdade/Masoquismo | 5 |
| Ataques Avari-Moriquendi | 2 |
| Testemunho ES-Calaquendi | 5 |
| Nota EMD | 3 |
Valor Espiritual
| Humildade/Presunção (heroísmo) | 3 |
| Presença/Idolatria (família/vida familiar) | 2 |
| Louvor/Sedução | 5 |
| Paixão/Terror (ameaça da injustiça terminal) | 3 |
| Soberania/Gnosticismo | 5 |
| Vigilância/Ingenuidade (expectativa de felicidade mundana) | 4 |
| Discernimento/Psiquismo (crença na tragédia como causa) | 3 |
| Nota Espiritual | 3,6 |
Cultural
| Inspiração (moral, estética, etc.) | 4 |
| Informação | 5 |
| Diversão | 4 |
| Nota Cultural | 4,3 |
Nota Final: 3,6 (IMDB 6,8)