
Diz a Escritura: “Ficarão de fora os cães, os mágicos, os impudicos, os homicidas, os idólatras e todos os que amam ou praticam a mentira.”
Essa “lista” pode variar um pouco dependendo da edição da Bíblia que cada pessoa usa. A citação acima veio da Bíblia de Jerusalém. Já a citação indicada pelo próprio autor da pergunta fala de feiticeiros no lugar de mágicos (até aí nada de muito diferente), mas inclui os adúlteros, que não constam da outra versão, e nem de outras mais antigas que podem ser consultadas. Por que existe esta diferença?
Para começo de conversa, devemos ter em mente que Deus não precisa de checklist para verificar quem entra ou não no Paraíso. E, aliás, os cristãos também não deveriam precisar. Pense comigo: se você está em paz com Deus e confia no Amor Dele, qual é o seu problema de saber quem vai ou não entrar no Paraíso? Esse assunto não diz respeito a nós e ao nosso relacionamento com Deus. Sendo assim, esse alerta existe, exatamente como a antiga Lei mosaica, para a advertência daqueles que desprezam o Amor de Deus, para que estes estejam notificados sobre o seu destino e não aleguem ignorância em sua defesa. Eventualmente pode servir também ao cristão morno, da Laodicéia, para que perceba sua própria mentira o quanto antes.
É claro que a inclusão dos adúlteros causa confusão, porque se estes são os adúlteros espirituais, essa categoria já está representada pelos idólatras (são sinônimos), e se, por outro lado, isso se refere aos adúlteros carnais, lá atrás essa questão já tinha sido levantada e resolvida (Mt 5:27), quando Jesus esclareceu que qualquer pessoa que tenha o desejo do adultério no seu coração já o cometeu diante de Deus, mais uma evidência de que o ser humano não pode se salvar por suas virtudes, mas somente pela pura força do Amor divino.
Ora, se é assim, por que alguém incluiu isto nesta passagem? É uma típica interferência religiosa que vai na direção à escravidão da carne e contra o discernimento espiritual. Ao invés de ensinar a libertação contra esse sacramento dos infernos chamado Matrimônio, as igrejas permanecem consagrando as uniões carnais, o que mantém o problema da desordem que advém do adultério, inevitavelmente tanto quanto à luz do dia se segue a escuridão da noite. O caos gerado pela ignorância e pelo desprezo da liberdade pode fazer a religião cristã chegar ao ponto de ter que colocar os adúlteros na lista de Ap 22. Novamente, se os adúlteros são os espirituais, esses já são os idólatras que constam da mesma passagem. Esse tipo de coisa é muito comum na religião. É o mesmo problema do aborto: as igrejas não ensinam a liberdade contra a reprodução de escravos neste mundo, bem ao contrário, incentivam a continuidade do esquema todo, e então devem lidar com a questão contínua da gravidez indesejada, algo que vai continuar existindo até o Fim do Mundo. Se o ensinamento moral estabelecesse toda gravidez como a continuidade do Pacto Ouroboros, a condenação do aborto seria mais absoluta e perfeita, porque qualquer ato que levasse a esta situação já seria condenável in limine, sem a necessidade de se fazer distinções cansativas que só geram mais confusão.
Esta é a nossa situação: já não basta ter que lidar com uma natureza decaída e com a vida num mundo governado por Satanás, é preciso também tratar com as perturbações adicionais que nos são acrescentadas pela Religião, essa gigantesca e inútil máquina de desentortar bananas. Claro que prefiro viver num mundo ordenado, onde a paz é mantida pela força desse tipo de instituição. Viver na total anarquia seria pior ainda. Mas um mal menor não deixa de ser um mal, não nos custa lembrar.
Mas, enfim, o que significa essa lista de pessoas que não vão entrar no Paraíso?
É uma descrição de pessoas que não querem viver com Deus.
Perceba que não se trata aqui de dizer que alguém QUER entrar no Paraíso, para a Vida Eterna, e então Deus chega e diz: não quero que você entre. Não é isso! Quem pratica essas coisas que Deus descreveu e se identifica com essas atitudes ao ponto de não ter nenhum arrependimento –ou seja, possui o desejo de continuar com a sua prática indefinidamente–, pois bem, essa pessoa não tem o que fazer no Paraíso, porque já é da sua escolha livre não querer viver com Deus e não querer se converter dessa decisão.
É por isso que se diz que a Lei só serve para os que a odeiam, porque os amantes de Deus não precisam que nenhuma Lei lhes seja forçada desde fora, já que gostam de praticar as coisas que agradam a Deus porque apreciam a instrução que Ele lhes dá em seus corações, e se ainda assim eventualmente falham, não tardam a reconhecer seu erro e a persistir no caminho da Salvação, principalmente com Humildade, confiando no Perdão divino (“se tropeça, não chega a cair, porque Deus lhe sustenta“).
Então, quem vai ficar de fora da Vida?
Vai ficar de fora quem quer ficar de fora.
A Justiça de Deus é perfeita, e se chama Misericórdia, o poder de dar a cada um o que cada um pede, inclusive a morte a quem prefere a morte.