Um cheque sem fundo: Ahsoka, por Dave Filoni

Sempre foi verdade que os artistas, sendo também seres necessitados de recursos para subsistir, precisaram vender os seus serviços.

O Artista puro é o nosso Deus, que a tudo cria por ato amoroso, sem de nada necessitar para produzir a sua Arte.

Abaixo Dele, em especial neste mundo decaído, as coisas são bem diferentes. E faz parte da missão de um bom artista saber equilibrar os seus diversos interesses, a saber, os ligados à qualidade artística de sua obra com os ligados aos seus meios de subsistir.

Talvez um George Lucas tenha sabido encontrar seu equilíbrio ideal com Star Wars. Mas o que dizer dos atuais contratados da Disney? Poderiam eles, mesmo que quisessem, fazer a sua melhor arte, quando precisam atender a interesses corporativos tão mais complexos? Antes alguém precisava apenas comer e beber, vestir roupas e morar sob um teto. Hoje, a diretoria de uma corporação precisa justificar seus números no fechamento do último Quarter diante de um Conselho de Administração que representa os vastos e diversos interesses dos acionistas.

Ahsoka, a recente série da Disney, parece uma promessa falhada, não cumprida. É claro que os acionistas da Disney querem uma novela que se estenda o máximo possível. E isso impede que qualquer estória mais substancial seja contada. Já vimos isso antes. Tudo tem que ficar para depois. Sentimo-nos enrolados.

Gostei de Thrawn, e mais ainda de Skoll, mas o primeiro é mais saudado por memórias do que por realizações (que na série foram medíocres até aqui), e o segundo é só um representante de um futuro possível.

Ahsoka e sua aprendiz (como é mesmo o nome dela?) são murchas, sem gosto e incompetentes. Onde estão as suas virtudes? O máximo que acontece é que a Sabine (é esse o nome dela?) falha no seu dilema moral de abrir mão do resgate do seu amigo Ezra para impedir que o Império tenha chance de se reerguer com o retorno de Thrawn.

Apesar de tudo, não posso dizer que a série é ruim, espiritualmente falando. A coisa mais grave na mitologia de Star Wars sempre foi a adesão ao misticismo da idéia de mistura de Luz e Trevas através dos conceitos dos dois lados da Força. Mas isso não faz parte da temática de Ahsoka. Eles resolvem a questão? Também não. A esperança estaria em Skoll. Ele parece condenar o ciclo das existências, o que indiretamente poderia significar uma denúncia contra o Ouroboros. Eu não me importaria se essa hipótese viesse por meio da sua conversão numa espécie de supervilão apocalíptico. Talvez algo tão perigoso que forçaria até os lados da luz e das sombras (Ahsoka e Thrawn? Talvez ao ponto de justificar a ação de Sabine no fim das contas?) a se aliar contra essa nova ameaça. A Disney já nos acostumou com essa idéia de classificar os autores do Fim do Mundo como vilões (exemplos das franquias da Marvel: Ultron, Hela, Thanos, etc.). Afinal, esses cabalistas não odeiam Jesus Cristo? Ele não é o vilão mor contra o Sistema da Besta? Eles não temem o Retorno do Rei que está vindo para destruir o império da mentira?

Mas Skoll ainda não se tornou nada. Nem mesmo esse supervilão. E é claro que qualquer superação heróica dos lados da Força já foi abandonada com a fraqueza moral de Luke Skywalker no Episódio VIII de Star Wars. Ali nós tínhamos uma chance. Podemos falar mais disso no futuro.

Por enquanto, com apenas uma temporada de oito episódios, Ahsoka não significa nada e não mudou nada na nossa vida, como o depósito de um cheque sem fundo.

Notas (de 0 a 10):

Valor EMD:

Hipótese: P&A 5 (Morto-Vivo)

M. Maior – Gratidão/Soberba5
M. Maior – Obediência/Rebelião5
M. Menor – Perdão/Julgamento5
M. Menor – Libertação/Sadismo5
M. Primeira – Liberdade/Masoquismo5
Ataques Avari-Moriquendi5
Testemunho ES-Calaquendi5
Nota EMD5,0

Valor Espiritual:

Humildade/Presunção5
Presença/Idolatria 5
Louvor/Sedução 5
Paixão/Terror (Sabine não aceita a perda de Ezra)3
Soberania/Gnosticismo5
Vigilância/Ingenuidade5
Discernimento/Psiquismo 5
Nota Espiritual4,7

Cultural

Inspiração (moral, estética, etc.)3
Informação5
Diversão4
Nota Cultural4,0

Nota Final: 4,6 (IMDB: 7,7)

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