Corra!, filme por Jordan PEELE

Este mundo não é um lugar onde nascemos para viver uma vida cheia de realizações, satisfações e sucessos.

É uma selva cheia de serpentes, uma estepe cheia de lobos, um deserto cheio de escorpiões.

E as selvas, estepes e desertos foram todos dominados pelo pior predador de todos, o ser humano, que inventou o pior dos ambientes que a natureza jamais havia sonhado: a sua civilização, o maior disfarce instalado em cima da realidade violenta e brutal de seu fundador.

Corra! nos mostra essa realidade de maneira crescente e quase insuspeita.

O protagonista é um jovem negro que namora uma moça branca por algum tempo, e que finalmente é convidado para conhecer a família dela.

Quando chegamos lá descobrimos um pessoal estranhamente bem educado e bem disposto com a presença do estranho num ambiente lotado de brancos. Suspeitamos de uma coisa aqui, outra ali: a mãe da menina que dá a entender gostar de usar hipnose com propósitos benéficos, os serviçais negros que trabalham na casa da família como zumbis, etc.

E então finalmente descobrimos o que já era de se esperar, que todo esse pessoal (a namorada inclusa) é racista e desumano, e que montaram um esquema de escravidão com uma metodologia moderna e heterodoxa: a menina serve de isca para atrair incautos namorados negros que eventualmente são hipnotizados pela mãe e dominados a tal ponto que são forçados a participar naquela sociedade do jeito que os brancos desejam, seja como empregados, como amantes, ou até como doadores de órgãos, como será o caso do nosso protagonista que é leiloado como propriedade para um homem cego que deseja enxergar novamente.

A sorte do nosso protagonista foi que descobriu alguns truques em tempo de se libertar do processo de dominação, e por fim que o seu amigo, que é agente do TSA (aquele serviço chato que opera ostensivamente nos aeroportos dos EUA desde o 11/09), resolve investigar o seu sumiço e acaba resgatando-o no final.

Corra! manipula o forte componente racista da cultura norte-americana para criar um terror moderno que se não nos ensina grandes coisas do ponto de vista espiritual, ao menos colabora para a abertura de certo censo de vigilância, e para a idéia crítica de que é uma tolice ingênua querer fazer desta vida um passeio agradável num mundo amigável. Infelizmente isso ficou restrito ao componente racial, mas não é difícil extrapolar o sentido para a condição humana como um todo.

Daí aprendemos a inteligência, que é correr do mal, sempre.

Nota espiritual: 4,9 (Moriquendi)

Humildade/Presunção5
Presença/Idolatria5
Louvor/Sedução-Pacto com a Morte4
Paixão/Terror-Pacto com o Inferno4
Soberania/Gnosticismo5
Vigilância/Ingenuidade6
Discernimento/Psiquismo5
Nota final4,9

Deixe um comentário