
Quando vejo este ator que protagonizou Ficção Americana, só consigo lembrar do Bernard de Westworld, uma das melhores séries, senão mesmo a melhor de todos os tempos (a 1ª Temporada) para o meu gosto.
Aqui o ator representa um personagem culto, um escritor negro que luta contra a indiferença do mundo à sua sofisticação enquanto os estereótipos raciais são elogiados e promovidos. Ao mesmo tempo ele vive um drama familiar: a saúde mental de sua mãe se deteriora, e a sua irmã, maior aliada no cuidado da mãe, morre logo no início do filme. Seu irmão não liga para nada e não dá o suporte necessário, já que está vivendo a sua própria estorinha particular e sagrada de sexo e drogas que não pode ser interrompida por nada deste mundo.
De birra, o nosso autor escreve um livro cheio de tolices e dos clichês que despreza, e manda para ser avaliado por intermédio de seu agente editorial.
Não surpreendentemente, o livro é bem aceito e lhe causa um sucesso espantoso. Conflitado por essa realização inesperada, o autor prossegue na farsa de que é um fugitivo da polícia contando a sua história de marginalizado, já que os lucros disso ajudarão a sustentar a mãe nos cuidados necessários.
Sem entrar em maiores detalhes do filme, o que temos aqui é uma peça de drama leve num mundo em que o noticiário já é suficientemente pesado. Pensando em tudo o que Hollywood costuma produzir, até que o filme não é dos piores.
Mas espiritualmente, que proveito podemos tirar disso, se é que podemos tirar algum?
O grande ganho vem do atenuado senso de Louvor da parte do protagonista. É fraco e meio desqualificado, mas está lá: ele não aprova nem deseja participar de uma porcaria de vida, numa porcaria de sociedade, senão dentro dos limites do que lhe é estritamente necessário. Mantém a sua seriedade até mesmo diante dos apelos do charme de uma candidata a esposa que, apesar de ser muito decente, não passa no teste de integridade moral ao apreciar a obra clandestina do nosso autor. É uma alma pequena que só vai diminuir o valor do outro.
O apelido do personagem principal já lhe profetiza o destino: “Monk”, que quer dizer “monge”, isto é, aquele que prefere a reclusão sagrada do que a mistura com o mundo profano.
Corretamente, Monk não decai ao nível do julgamento moral do próximo, seja de sua família ou de qualquer outro. Ao contrário, até sabe apreciar a alegria alheia, embora saiba que ela é apenas uma tolice e, por esta razão, que não pode participar dela. Isto fica claro na cena mais poderosa do filme, para mim, que é quando ele observa a festa de casamento da empregada de sua mãe.
Falando na mãe de Monk, esta lhe diz que ele é como o pai, um gênio, e que gênios são pessoas que não sabem como lidar com as outras.
Sendo gênio ou não, Monk não tem o valor redentor necessário para emprestar o seu Louvor ao próximo, razão pela qual a parte ruim da estória acaba se tornando mais prejudicial do que a parte boa foi lucrativa: o filme transmite a legitimidade do Sistema da Besta e valida o espírito de Ingenuidade.
Afinal de contas, Monk pode até ser um gênio, mas não é o dono da verdade. No máximo, é dono da sua própria verdade, e isso não melhora a situação de ninguém além dele mesmo.
Um bom monge tem o Evangelho, a verdade realmente redentora e universal, aquela que não só separa a alma do mundo, mas que a faz brilhar sobre ele, atraindo a todos os de boa vontade com a promessa de salvação.
Nota espiritual: 4,4 (Moriquendi)
| Humildade/Presunção | 4 |
| Presença/Idolatria | 4 |
| Louvor/Sedução-Pacto com a Morte | 6 |
| Paixão/Terror-Pacto com o Inferno | 5 |
| Soberania/Gnosticismo | 5 |
| Vigilância/Ingenuidade | 3 |
| Discernimento/Psiquismo | 4 |
| Nota final | 4,4 |