Revisão da origem dos Sindar e Teleri a partir da RSMM

Com a Razão Singular de Mistura Mínima (RSMM) evidenciamos finalmente que embora nenhuma alma tenha jamais “pedido para nascer”, todas elas possuem a sua medida de experiência necessária para a solução ótima (Coruscância Calaquendi) que torna eventualmente conveniente o seu nascimento sob determinada condição, inclusive a Sindar.

Seria absurdo presumir que a acidentalidade da escolha particular de uma mônada interferisse nesse grau na experiência de uma outra. Esta dificuldade sempre me incomodou. Já havia reduzido o problema ontológico com a Mútua Representação, mas permanecia essa dificuldade da força das obras da carne como um arbítrio que, embora fosse sempre permitido por Deus, teria sua razão em suspenso. É claro que poderíamos manter essa razão no grande conjunto dos mistérios divinos, mas com a RSMM detectamos que a força da liberdade de cada mônada de carecer de certa experiência para alcançar o ponto ótimo de decisão, já conhecido desde a Eternidade por Deus, seria um fator muito mais determinante desse condicionamento do que a força de um terceiro.

Dito isso, qualquer alma particular poupada de nascer pela virtude de abstinência de seus potenciais pais num mundo determinado conserva em si a sua carência de experimentar a melhor condição possível, considerada a RSMM, em outra realidade em que seus pais realizem a sua potência generativa. Isso não só preserva a integridade da Mútua Representação, como reforça o aspecto interior da experiência humana com Deus, quase alcançando a analogia pura da Simulação. Em outros termos: a imitação de Cristo, ou a vocação da Abstenção do Poder, em nada interfere no destino das demais mônadas, mas apenas naquela que exerce a sua discricionariedade diante de Deus. A rejeição do Pecado Original é um ato totalmente interior: na sua intenção, na sua realização, e nos seus efeitos. Em nada convém que a arbitrariedade de uma mônada interfira no exercício da liberdade de outra diante de Deus. As coisas são como devem ser, se não exatamente, marginalmente próximas do ótimo com a variação mínima da latitude necessária para a própria RSMM.

Quem se abstém de agir com Presunção na reprodução das obras da carne, embora evite a causa de um malefício particular percebido como imediato, não tem o poder de poupar uma alma de passar pela experiência análoga em qualquer outra realidade, porque a necessidade dessa experiência é determinada pela RSMM do próprio nascituro. Vivemos todos sempre e apenas para Deus, na Presença. Aquele que evita a produção do mal realiza a sua ação diante de Deus, para se aproximar Dele. E aquele que nasce é vítima, por assim dizer, de si mesmo, desde que precisa realizar a sua liberdade com algum grau inescapável de experiência do mal. Não abolimos, assim, a realidade moral. A responsabilidade, na verdade, aumenta, porque a renúncia do mal não implica apenas na mudança de um acidente, mas sempre numa ação moral diante do Altíssimo. O amor ao próximo como dom de perdão pode atingir, através da compreensão disto, o seu auge: não depende daquele que é perdoado alcançar um benefício moral, mas daquele que perdoa, porque aceita a sua condição como Cruz determinada pela Providência. Vemos, assim, como a moralidade do Antinatalismo está perto e longe ao mesmo tempo da verdade da condição humana: compreende o mal da Pretensão e da irresponsabilidade moral, mas não entende como a realidade do nascimento é permitida por Deus para a realização da sua própria liberdade. Os que seguem esta linha de pensamento evitam, na sua cegueira, a graça de descobrirem o maior mérito da sua posição de rejeição do Pacto Ouroboros, que é a vida na Presença. E não vamos nos esquecer que tanto quanto a RSMM explica a necessidade que tais e quais almas nasçam na condição Sindar, ela também explica porque muitas devam experimentar a particularidade da paternidade e maternidade. Ninguém pode privar realmente uma alma de participar no Pecado Original: àquelas que prescindiriam dessa experiência, outra realidade já lhes seria providenciada, como esterilidade, acidentes, etc. Desejar que o outro não exerça a sua liberdade é na melhor das hipóteses um incômodo que não muda o dever-ser da mônada, e na pior é um indicador da dureza da alma daquele que quer interferir.

Resta-nos revisar a origem dos Teleri nos tempos interressurreicionais como exclusivamente dedicada às almas que sempre possuíram uma RSMM adequada a essa modalidade criativa. Deste modo, os filhos potenciais que nunca teriam a oportunidade de nascer como Sindar podem encarnar como Teleri, sempre uma multidão muito maior do que os que nasceram neste mundo. Mas os não nascidos por abstenção, se tivessem que nascer o farão de qualquer modo, em qualquer outra realidade que lhes seja apropriada, com pais dispostos, etc.

Antes entendíamos, erroneamente, que o ato de preservar uma alma de nascer numa condição particular como resultado de participação no Pacto Ouroboros teria o poder de enviá-la imediatamente à melhor condição de criação direta por Deus no âmbito do Milênio. Somente Deus teria esse poder, e o exerceria obviamente se isso correspondesse ao ótimo determinado pela RSMM de cada mônada. Se esse fosse o caso, porém, nenhum de nós teríamos o poder, ao contrário, de encarnar uma alma neste mundo, se ela pudesse ser criada em outro melhor. Não podemos assassinar quem não seria assassinado de qualquer forma, assim como não podemos poupar uma pessoa de experimentar o mal se isto for condição da RSMM, mas podemos apenas poupar a nós mesmos de experimentá-lo e produzi-lo. Se alguém tem que ser assassinado, por assim dizer, só podemos evitar que sejamos nós quem cometamos o crime, mas não que o crime em si seja cometido, se isto é uma experiência requerida por aquela mônada. Com a RSMM temos a medida delicada da fina fronteira entre Determinismo e Livre-Arbítrio: modificamos a nossa vontade livre, com a condição que aceitemos a impossibilidade de modificar a alheia.

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