Por que os que questionam a queda da natalidade de um ponto de vista naturalista ou agnóstico não concebem a hipótese de que a mudança no comportamento da espécie humana é uma decorrência natural do progresso moral concomitante à evolução natural da senciência?
Igualmente, por que não concebem que essa hipótese seria uma explicação satisfatória tanto para o Paradoxo de Fermi quanto também para qualquer cenário de desaparecimento de antigas civilizações terrestres que poderiam, supostamente, ter sido mais avançadas que a nossa no tempo presente?
Ocorre que se ignora a concomitância do progresso moral junto à evolução natural da senciência. Qual é, afinal, o efeito moral de um progresso material rápido e em massa numa civilização que alcançou a senciência?
Já concebemos, anteriormente, o atingimento de três níveis diferentes de civilizações sencientes:
1 – Fase de Sobrevivência
2 – Fase de Normalização
3 – Fase de Reflexão
Na Fase de Sobrevivência, uma espécie senciente possui a potência da consciência, mas ainda precisa usar toda a sua capacidade intelectual para garantir que atinja a sobrevivência como novo status quo, seja através de avanço da técnica, manejo de recursos, etc.
Na Fase de Normalização, uma espécie senciente já obteve o domínio dos meios de sobrevivência e possui finalmente uma consciência atual da sua condição, diante da qual passa a usar toda a sua capacidade intelectual para a normalização do status quo, seja através de ajustes no manejo dos recursos já dominados, seja na produção de uma cultura simbólica que justifique a sua condição (religião, filosofia, arte, etc.).
Na Fase de Reflexão, uma espécie senciente já alcançou o limite da normalização da sua condição e possui finalmente a reflexão da sua própria consciência, usando sua capacidade intelectual para o questionamento do status quo e a transcendência do mesmo, alcançando, por exemplo, a consciência da Mônada, do Idealismo Transcendental, da Metafilosofia, etc.
Quando uma espécie senciente atinge o nível civilizacional da Fase 3, ela naturalmente vai produzir gradativamente, entre seus indivíduos, de forma mais ou menos prática, a conveniência do Antinatalismo como consequência do questionamento da sua condição existencial.
Isto explica as atuais taxas de natalidade em decadência nas partes mais desenvolvidas do mundo, bem como explica as possibilidades tanto da extinção voluntária de civilizações terrestres antigas, bem como de eventuais civilizações extraterrestres.
A única maneira de ignorar ou mesmo de invalidar completamente esta hipótese seria através de uma resposta alternativa como resultado do progresso moral, o que esbarra necessariamente na vasta barreira da Antropodicéia: se o Paradoxo de Epicuro aboliu a validade da Teodicéia e Deus está injustificado, tanto mais ainda o ser humano também o estaria. O modo de superação desta barreira é a confiança numa fonte superior (transcendente) de moralidade, como algum tipo de panteísmo naturalista, mas isso teria então que ser defendido abertamente como crença teísta em contraste com as demais hipóteses de teísmo, justamente o que o pensamento ateísta e agnóstico evita fazer, porque então a sua crença poderia ser comparada como forma de teísmo com outras igualmente possíveis e talvez mais convenientes.