A teleologia metaracional do Sumo Bem como premissa da Monadofilia

Por que é tão improvável a aceitação, da parte de qualquer pessoa que pense com a forma mentis contemporânea, das idéias monadofílicas?

Isso ocorre porque o nosso mundo de hoje aprendeu a bitolar a sua inteligência em torno das causas material e eficiente, aquelas mais adequadas ao método de investigação e domínio da gnose moderna, de modo que a esseidade das coisas é proibida e relegada ao submundo dos esoterismos e das pseudociências. Quando falo de esseidade, refiro-me às grandes causas dos seres, a formal e final.

A questão sobre o de quê as coisas são feitas, ou sobre como elas são feitas, deriva de uma visão de mundo restrita à quantificação e mensuração, um vício derivado da ótica experimental, empirista e utilitária. Embora isso ajude a ampliar o domínio humano sobre a natureza, serve também para sequestrar o foco da alma humana nos aspectos mais periféricos do reino da Multiplicidade, perfazendo um caminho contrário ao da contemplação da Unidade, ou seja, fazendo o caminho contrário tanto ao do espírito de Moisés quanto ao da filosofia de Platão.

As questões proibidas perguntam sobre o que as coisas são, e sobre qual é a finalidade delas. Ambas as questões exigem o enquadro dos elementos do mundo num panorama maior, dentro de alguma perspectiva de transcendência, isto é, fora do costume do pleno domínio da razão humana. E isso parece insuportável demais às mentes que já se adaptaram aos seus jogos de poder.

Ou seja, tudo o que exigiria a virtude da Humildade parece defeituoso, uma projeção psíquica do defeito humano da Soberba. Porque é a obsessão pelo poder que torna intratáveis os objetos contemplativos da alma humana.

Vencido, porém, esse obstáculo, podemos alcançar grandes e preciosos entendimentos.

A causa formal aponta, na quididade das substâncias simples, ou Mônadas, as características de Percepção e Apetição. Esta última potência, por sua vez, aponta para a finalidade do ser. A causa final da substância simples é a satisfação da sua Apetição.

Desde que a Mônada possua Apetição, seu bem próprio é incontestável tanto quanto o próprio Sumo Bem como forma absoluta e originária de todos os seres. Você pode até questionar se Deus é real ou bom como uma figura de linguagem, isto é, como ato de mera lógica discursiva, mas não pode questionar se o Bem é bom, ou seja, se é desejável ou não, o que nos obriga a reconhecer que Deus é real e bom, porque Ele é esse Sumo Bem supremo que constitui a forma substancial de todos os seres, já que não há forma mais simples e transcendente do que a do Bem que é a essência da divindade e, ao mesmo tempo, a carência particular de todos os contingentes que os ligam à sua fonte criadora.

A amabilidade das substâncias é determinada pela forma do seu ser, independentemente da não atualização da sua potência, de modo que com justiça podemos questionar se a Apetição se satisfaz ou não dadas as várias restrições da nossa ignorância, mas jamais podemos questionar se é conveniente ou não a sua satisfação de forma absoluta.

Convém, finalmente, que a origem das substâncias possua a forma desse Sumo Bem que satisfaça eventualmente a causa final de todas elas.

Essa é a premissa da Monadofilia: uma teleologia metaracional que confessa um dever-ser ao mesmo tempo inquestionável na sua forma e contingente na sua concretude, pois é dependente de um Ser supremo cuja própria forma pode ser intuída e contemplada, mas nunca dominada pela razão ordinária. Ou seja: a Unidade e o seu Bem são objetos de amor e não de gnose. Nós não podemos dominar o bem divino e muito menos o nosso próprio, mas podemos confiar e confessar o desejo do bem, e isto é o que alinha mais perfeitamente a nossa liberdade à nossa forma de ser.

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