A transcendência da liberdade moral aos fundamentos naturais em Kant

Esse poder racional de acomodar as condições empíricas dentro de uma consideração que as transcendem é a base do fenômeno moral humano como ser que realiza a Metáxis, o homo pontifex: um representante de Deus no seio da natureza.

O ser humano que se vê como parte do cosmos, ainda que privilegiadamente no seu topo, não pode compreender a natureza da sua liberdade moral, pois toma como origem constitutiva da sua substância o que é apenas o cenário da realização do seu arbítrio. Todo condicionamento empírico, natural, causal, fenomênico, serve apenas como matéria-prima para a realização espiritual do ser humano, o qual só pode reconhecer a verdadeira origem da sua substância num Ser que transcende toda a série dos contingentes.

Assim, com Kant aprendemos como o jogo gnóstico dos prisioneiros da matéria não passa de um TEATRO. Isto é: ao invés de assumir a verdadeira natureza humana e, com ela, a responsabilidade da vida na Presença, o ser humano médio, decaído e amaldiçoado, prefere se ver como abandonado por Deus e finge apenas reagir a uma condição, como se ela não tivesse nenhuma relação com a sua forma de ser. Sua mentira pode chegar, finalmente, se for longe o bastante, ao cume quando ele passa, da idolatria da natureza à idolatria de si mesmo, do panteísmo naturalista ao humanismo antropocêntrico.

Quão pouco custava a liberdade, o mero preço de uma confissão, mas esse ser teimoso quer experimentar a sua própria desobediência até o fim. Um direito que não lhe pode ser tirado, mas que também, e com justiça, custará tudo o que tiver que custar.

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