
O conceito de Deus exige a sua necessidade, como objeto do entendimento da Razão (juízo analítico), de tal modo que a predicação de existência ao Ser divino sempre contraria a pureza daquela necessidade, já que essa qualidade só pode ser inferida ao contingente como intuição sensível (juízo sintético).
Curiosamente, no próprio Tetragrammaton (já analisado aqui antes) a expressão que temos traduzida ao nosso idioma é a de Ser em contraposição ao Existir, o primeiro termo cabível a uma substância transcendente, e o segundo somente aos imanentes.
Para deixarmos claro, o existir predica-se de tudo aquilo que pode vir ao ser e que também possa partir dele, ou seja, o contingente assinalado pela quantidade, ou o reflexo da Unidade na Multiplicidade manifestada enquanto fenômeno. Quando falamos de seres que possam ser compostos pela união de suas partes, e igualmente decompostos pela dissolução das mesmas, falamos de um ser que vem a existir num processo temporal, e que deixa de ser também por um devir. Isso vale para qualquer ente tido como composto, inclusive para os vivos: o processo natural de geração e corrupção nada mais é do que a produção da existência na forma de vida de um composto cujo princípio de união é o mesmo que determina a possibilidade da sua dissolução, ou morte, pela perda das suas propriedades unificantes.
Quando falamos de Deus, só podemos falar da Substância Simples, a Mônada que não tem partes e que portanto jamais poderia vir a existência por composição, ou deixar de existir por decomposição.
No caso da Mônada Incriada, seu Ser é Absoluto, portanto único na sua total transcendência (incomparável pela Razão).
No caso da Mônada Criada, seu Ser é contingente ao arbítrio do Criador, mas não ao processo de composição por partes, pois também é uma Substância Simples: seu ser é determinado pelo ato de criação, bem como a sua extinção é determinada por um ato de aniquilação.
Toda vez que se discute, portanto, o tema da “existência” de Deus, está-se tentando reduzir a Substância Simples a um grau de inferioridade que contradiz a pureza do conceito do Ser divino.
Deus não pode existir, Ele só pode Ser.