Nesta obra, o Professor Kant me pareceu uma espécie de Dr. Jeckyll e Mr. Hyde da Filosofia: misturando o que parece ser muita Humildade com pouca Soberania, e pouca Pretensão com muito Gnosticismo.
Seu procedimento é enfadonho, embora não deixe de ser estimulante a um tipo bem determinado de mentalidade que goste de abstrações filosóficas.
Se tivermos em mente apenas a finalidade prática da Filosofia para a vida humana, nos perguntaríamos sobre esta obra: foi muito barulho por nada? Poderia ter feito o mesmo, mas com menos?
Mas nosso julgamento não é literário, e não importa o grau da chatice de um autor, se ele é produtivo espiritualmente, isto deve ser levado em conta acima da sua escolha de formalização.
Em termos espirituais, Kant mistura justamente excelentes considerações que podem nos ajudar muito na descoberta do dom de Humildade, com outras tantas mais evidências de corrupção gnóstica através de várias infiltrações ao longo de sua obra.
Assim, um espírito vigilante poderia fazer uso dos recursos filosóficos à favor do elogio da Humildade, dispensando o resto, mas não poderia obter essa própria Vigilância través da obra de Kant, porque ele não tem praticamente nenhuma para dar.
O Intelecto humano é excelente para se dar limites, se assim o desejar. Isso Kant provou de modo incontestável. Ao mesmo tempo, ele não pode reconhecer o arbítrio da Vontade se esta não se submeter ao seu exame, e assim a mentira gnóstica toma conta de um sistema esclarecido na sua superfície, mas totalmente obscuro nas suas profundezas. Essa é a realidade que encontrei na Crítica da Razão Pura.
Talvez o desgosto com o dogmatismo religioso tenha levado não só Kant, mas muitos outros, a uma reação desmedida na outra direção. Curiosamente, o próprio Kant alerta contra o dogmatismo ateístico, porque este sem dúvida é perigoso ao status quo, mas ele não fala de razões para se obter progresso fora do seu paradigma social e histórico, ou seja, não dá alternativas reais, que poderiam substituir o ateísmo, contra o poder do dogmatismo religioso.
Parece que Kant quer fundar uma nova Religião universal, da Razão, o que seria sempre um culto humanista e antropocêntrico, como com razão é acusado pelos Tradicionalistas. E assim mantemo-nos novamente na Dialética do Ouroboros, sem grandes novidades.
Só posso entender isso como um novo fracasso da Filosofia, possivelmente pela perturbação dos seus interesses próprios diante de circunstâncias históricas, sociais e culturais, ou até de interesses pessoais da parte do filósofo.
Há um desperdício aqui. Muito se poderia ter feito para reconhecer o dom de Soberania em sua assustadora integridade, o que só aumentaria o grau de consciência a respeito da responsabilidade humana. Essa possibilidade foi totalmente frustrada por Kant, possivelmente por ser ele não um filósofo despreocupado, mas um Professor da Real Academia de Ciências, portanto uma autoridade com função social, da qual dependia o governo da sociedade em algum grau.
Nunca posso, de minha parte, resistir à observação de que o Poder é sempre corruptor por si, e de que exercerá todas as vezes uma influência nefasta quando aquele que é tentado não aceita de Deus o dom de Vigilância, presumindo que a sua experiência se dá num mundo decaído e amaldiçoado, sob domínio de Satanás, e destinado ao governo final do Anticristo.
Não é necessário se fazer uma adesão voluntária e consciente ao Sistema da Besta para servi-lo: basta rejeitar o dom de Vigilância que o Espírito Santo nos provê, e abraçar o espírito de Ingenuidade. O que por sua vez só se dá quando se rejeita também o dom de Discernimento, e se aceita a influência do Psiquismo.
Eis que um Bispo do Sistema da Besta se constitui tão somente pela sua vontade de legitimar o mesmo, seja qual for o entendimento de sua forma em seus próprios termos de maior ou menor ilusão, ou seja, justificar o status quo da Mistura e a ação dos Usurpadores do Nome, ao invés de defender a causa da Separação.
Kant poderia julgar tudo isso apenas como um outro tipo de ingenuidade dogmática, é claro.
Mas, quid est veritas?
Nota espiritual: 3,6 (Moriquendi)
| Humildade/Pretensão | 8 |
| Presença/Idolatria | 2 |
| Louvor/Sedução-Pacto com a Morte | 5 |
| Paixão/Terror-Pacto com o Inferno | 5 |
| Soberania/Gnosticismo | 1 |
| Vigilância/Ingenuidade | 2 |
| Discernimento/Psiquismo | 2 |
| Nota final | 3,6 |