“Tudo que produz uma ilusão é conceituado como ‘Magia’.”

Neste próximo trecho de O Descortinar da Alta Magia, de Daniel Mastral, temos um testemunho que começa a se aproximar da síntese mais simples a respeito da essência das artes arcanas, ou mágicas:

O problema é que, por aproximado que este testemunho seja da essência das coisas, ele não alcança o âmago na sua maior simplicidade, além de constituir um tipo estranho, entre tantos outros, de “revelação” satânica.

Qual é o sentido, da parte de quem denuncia o Deus cristão, de chamar algo de “Verdade preestabelecida por Deus“? Antes, o discurso dos opositores da obra divina deveria chamar a Revelação divina de mentira. Essa linguagem usada por Mastral denuncia a provável perversão de um discurso original que teria outra consistência, ou ainda, com maior probabilidade, uma pura invenção de pueril credibilidade, isto é, feita para enganar pessoas ingênuas.

Além deste problema da legitimidade deste testemunho, é conveniente verificar que o mesmo não atinge, como falamos, a essência das coisas: em suma, o poder mágico de encantar nada mais é do que o poder de mentir.

A mentira é um produto do Intelecto que gera a imagem da verdade a partir de quaisquer subsídios mais ou menos críveis, movido por uma Vontade prévia de acreditar no que é falso.

O sucesso do efeito da mentira é totalmente dependente da disposição daquele que é enganado, pois sua Vontade primeiro teve de dispensar o dom de Vigilância, e acatar o espírito de Ingenuidade, para então mover o Intelecto na produção da imagem da verdade que será tomada por crível a partir de determinados indícios que serão arbitrariamente confiados.

Mastral não mostra isso com a clareza que conviria, ao menos não até este ponto. Então que fique claro o que ele não pôde ou não quis nos dizer: o poder na mentira está nas mãos do que é enganado por ela. Um mentiroso só tem poder sobre quem é ingênuo de acreditá-lo. Se a escritura já declarou “maldito o homem que confia no homem“, quem se pode dizer vítima inocente depois de receber o alerta da Revelação?

Assim, o poder que os satanistas tem de enganar o mundo inteiro é muito mais uma concessão da fraqueza das suas vítimas, do que uma força própria que lhes dá a condição de domínio. Antes de mais nada, foram os nossos pais que nos venderam ao diabo, como reféns do seu Pacto Ouroboros, e foi isso que constituiu a base da entronização do Príncipe das Trevas sobre este mundo, e não uma competência própria das forças demoníacas. Desde Adão e Eva, o poder da Serpente dependia de um arbítrio corrompido da parte de suas vítimas, ou seja, é um poder que se projeta sobre a fraqueza alheia, e não como uma potência própria, de modo que esse relacionamento espiritual entre os seres humanos decaídos e os espíritos das trevas constitua uma perversão do relacionamento entre os fiéis e Deus através do Amor que ampara a sua fraqueza.

Operando sempre como inversão das coisas espirituais, a relação dos homens corrompidos com os demônios imita, de forma pervertida, a relação dos homens fiéis com Deus: assim como Deus é encontrado na fraqueza humana que clama pelo seu Amor, o engano diabólico é encontrado na fraqueza humana que clama pelo engano da Mentira através da credibilidade da sua Ingenuidade.

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