Citação L0035-C03, em Górgias, livro por PLATÃO.

Nesta passagem que pode parecer ter menor importância, encontramos o testemunho direto de que a pureza, ou separação, de bem e mal, é algo superior à qualquer nível de mistura.
É verdade que, dada a condição da mistura, é melhor se livrar da maldade do que se corromper pela mesma. E ainda é melhor que, se corrompido, pague-se uma pena purgatória, do que não pagar nenhuma.
Mas o estado original de separação e imunidade, um estado ótimo da alma, não pode ser ignorado como o maior dos bens, como a maior das felicidades.
Embora não diga, Platão poderia discorrer sobre os motivos da mistura, já que considera a separação como o estado ideal. Nisto talvez se perdesse com uma mitologia mais ou menos gnóstica, como de costume. Nossa tarefa aqui, no entanto, é verificar que o ideal, na sua pureza própria, dispensa a mistura.
Se todos os seres humanos preservassem essa noção –algo que provavelmente em algum ponto da nossa criação no meio do cativeiro, enquanto ainda éramos bem jovens, ainda percebíamos com alguma clareza–, eles poderiam dispensar todos os maiores envolvimentos com a mistura sob a ilusão da obtenção de benefícios mundanos, e assim estariam livres do carregamento de um peso excessivo em suas vidas.
Digo por mim: ainda que de forma obscura, não deixo de me lembrar vagamente de ter essa noção de ser forçado, pelas pessoas mais velhas ao meu redor, em optar por algum tipo de anuência com relação a esta vida na forma de uma troca do aceite do pior pela ambição do melhor. O cultivo da filosofia platônica, ou ao menos de algum idealismo mínimo, já seria suficiente para contrapor a influência dessa cultura de cativeiro.