Santa Maud, filme por Rose GLASS

Análise F0021, Santa Maud, filme por Rose GLASS.

Este filme conta a história de uma enfermeira confusa e sobrecarregada com o espírito de Terror, por conta de algum episódio obscuro de seu passado sobre o qual não sabemos os detalhes.

Vinda desse trauma, e também de uma vida mais ou menos desregrada sobre a qual também não temos maiores detalhes, Maud aceitou a culpa advinda da tentação desse espírito de Terror e buscou refúgio no abrigo da experiência da superficialidade da Religião. É claro que isso não vai dar certo. Ao invés de se apoiar na firmeza deontológica da condição humana, cuidando da sua vida da melhor forma que pudesse, ela se arrisca nas ilusões dessa mistura indigesta que a doença mental da Religião oferece de moralismo, superstição e sentimentalismo. Imediatamente após se condenar nas suas ações, é óbvio que a recém-convertida buscará o mais rápido possível alojar-se no conforto da situação de julgar e condenar os outros desde a sua suposta santidade justificada pelas suas patéticas penitências. A Religião é a mais eminente escola do Orgulho, embora não seja a única, e o Ateísmo não fique muito atrás.

Ela passa a atuar como empregada particular para uma senhora com um perfil artístico e liberal que passará, naturalmente, a questionar e até a zombar da fé de Maud. A enfermeira, porém, também não ajuda muito ao presume-se chamada a um destino especial que a faz se colocar em situações moralmente arriscadas, como quando tenta ser a salvadora de sua patroa. Tendo subido, por si, a um patamar que nunca lhe foi devido, é evidente que depois sofrerá uma queda doída.

Incapaz de se recolher à interioridade onde poderia obter os verdadeiros dons espirituais que só podem advir de uma legítima contrição, Maud tenta forçar sua comunicação com a divindade, o que abre as portas para enganos profundos, com sugestões e influências demoníacas que eventualmente a levarão ao assassinato e ao suicídio.

A loucura da protagonista é de sua inteira responsabilidade. Se não pretendesse ser a santa e salvadora, poderia aprender a se contentar com o Deus verdadeiro, e receber um consolo poderoso de fato. Por sua soberba crescente, encontra-se forçada a assumir cada vez mais profundamente todos os contornos da sua insanidade como um sentido verídico, e finalmente cruza a última linha da qual não terá mais volta.

Apesar do tom sombrio do filme, a sua mensagem espiritual é legítima, no mínimo por três razões:

1- Maud poderia e deveria ancorar-se nos seus deveres de estado e, sendo humilde, aceitar todas as tentações e provocações com firmeza e perseverança. Sua fé é falsa, religiosa, superficial e supersticiosa, e isso é sua responsabilidade. Ela não busca um aprofundamento para fora de seu próprio sentimentalismo;

2- Quando sua ex-colega Joy lhe procura, logo antes que dê os próximos passos em direção à sua loucura sem retorno, isso consiste num recurso de misericórdia da parte de Deus, que nunca fechou a porta para Maud. Ela é que teria que acreditar na verdadeira bondade divina, cheia de perdão, misericórdia e compaixão. Mas o deus dela é o Diabo, o Acusador que se alimenta de suas culpas e punições, e lhe impinge um senso de missão absurdo (julgar, condenar, punir, etc.);

3- Quando o próprio diabo, seja verdadeiramente ou em alucinação, lhe acusa de ser fraca na fé por não ser suficiente a confiança em Deus, isto é no mínimo um alerta legítimo de sua própria subconsciência, ou uma intervenção divina fazendo uso do impulso acusatório do demônio para revelar uma verdade.

Crer em Deus é o mesmo que confiar Nele.

Se desejamos ver ou conhecer Deus para diminuir, no mínimo que seja, a pureza do nosso amor a Ele, estamos jogando no campo adversário e imitando Lúcifer, esse grande desconfiado que ensinou sua malícia para a humanidade.

Como a história acaba muito mal para Maud, o filme surpreendentemente tem um sentido espiritualmente positivo. Talvez este nem tenha sido o objetivo dos criadores do filme, mas a coisa é o que ela é.

Se a protagonista fosse uma heroína, o sentido seria o contrário.

Mas, como vítima de si mesma, Maud serve de exemplo para não tomarmos levianamente o dom da vida na Presença.

Nota espiritual: 5,6 (Calaquendi)

Humildade/Presunção5
Presença/Idolatria5
Louvor/Sedução-Pacto com a Morte5
Paixão/Terror-Pacto com o Inferno5
Soberania/Gnosticismo6
Vigilância/Ingenuidade6
Discernimento/Psiquismo7
Nota final5,6

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