O filósofo volta a discutir o tema da virtude, principalmente a questão sobre se a mesma pode ou não ser ensinada. A virtude é assim comparada ao conhecimento em geral, o que faz Platão voltar à sua hipótese da Reminiscência. Em tudo o Mênon não pareceria trazer muita novidade ao panorama da filosofia platônica, se não fosse pelo seu desfecho, de que já trataremos.
Antes, porém, convém verificarmos algumas passagens relevantes, como esta:

A escolha pelo mal não pode ser compreendida racionalmente, porque nunca é uma escolha racional. Mas isso só pode ser compreendido com a observação de dois fatores: primeiro, que a Vontade é livre para fazer uma escolha irracional, do contrário a vida de um ser ignorante como o ser humano seria impossível, porque ele não pode agir se não tiver uma opinião, a imagem da verdade ignorada; segundo, que essa Soberania do Livre-Arbítrio pode ser conscientemente usada para disputar o poder da Autoridade divina, o que significa, em última análise, que se Deus ama, a única vitória possível ao Mal é a recusa deliberadamente irracional do Bem. Essa escolha jamais poderá ser justificada racionalmente. Mas não é que aquele que rejeita o Amor divino deseja a sua própria miséria: antes, aceita essa consequência porque deseja que a sua própria vontade se sobreponha à de Deus, e este desejo é superior ao desejo de não sofrer a consequência desta decisão.
Mais adiante Platão faz uma defesa tradicionalista dos costumes, mostrando que seu idealismo é responsável, mas também expondo a sua vulnerabilidade dentro da dinâmica da Dialética do Ouroboros:

Tanto a “opinião verdadeira” (dóxa ên alethés) quanto a “opinião correta” (orthé dóxa) constituem uma concessão importante, e rara, de Platão ao dom de Soberania. E um filósofo tão profundo não poderia deixar de observar a necessidade humana da opinião.
Mas o que torna o Mênon tão valioso espiritualmente, e até surpreendente no panorama geral das obras platônicas, é o seu poderoso testemunho à favor do Discernimento. O filósofo assume explicitamente que toda virtude tem origem divina, não podendo portanto ser ensinada, mas somente contemplada e testemunhada. Só faltou Platão unir esse dado com sua observação anterior sobre a necessidade da opinião para que fizesse a importante consideração de que a opinião correta, ou verdadeira, não é um propriedade da coletividade, como um bem que possa ser transmitido e continuado entre as gerações, mas um dom divino produzido pelo relacionamento dos indivíduos com a divindade, e do qual só participam as pessoas que desejam receber esse dom. Isso não foi dito, mas Platão já nos deu muita coisa:

Com este desfecho, o Mênon se tornou, pelo menos até agora, a única obra platônica que eu poderia subscrever sem reservas em sua essência, pela sua conclusão principal, ainda que o filósofo não tenha dito tudo o que eu entendo ser pertinente ao tema.
Nota espiritual: 6,0 (Calaquendi)
| Humildade/Presunção | 7 |
| Presença/Idolatria | 5 |
| Louvor/Sedução-Pacto com a Morte | 5 |
| Paixão/Terror-Pacto com o Inferno | 5 |
| Soberania/Gnosticismo | 7 |
| Vigilância/Ingenuidade | 5 |
| Discernimento/Psiquismo | 8 |
| Nota final | 6,0 |