Round 6, série por HWANG Dong-hyuk (2T)

Exploramos as mazelas do capitalismo tardio da Coréia do Sul através da experiência pessoal de Seong Gi-hun, que acaba aceitando participar, junto com outros infelizes companheiros de infortúnio, de uma série de jogos mortais em troca da possibilidade de ganhar muito dinheiro de uma vez.

Eventualmente o nosso protagonista, que se torna o Jogador nº 456, vence a competição e fica rico, mas ao invés de aproveitar seu prêmio, resolve investigar e perseguir os promotores dos jogos, uma trama que o leva a participar dos jogos uma segunda vez, onde chega a criar um motim armado contra os organizadores, mas acaba frustrado no fim.

O que a série Round 6, ou Squid Game, nos diz sobre a realidade humana?

Diz-nos que da maioria da população que vive em condições bem abaixo das ideais, uma parte considerável pode aceitar se submeter a riscos extraordinários para escapar da sua situação, inclusive e especialmente riscos morais.

Isto quer dizer que entre os nascidos no cativeiro do Sistema da Besta sempre haverá uma parcela suficiente da massa de peões disposta a renovar as posições de liderança nos escalões superiores. Essa inescrupulosidade é demonstrada de diversos modos, mas se inicia com a notável disposição geral para o aceite de riscos extraordinários apenas para se ter uma chance de mudar a condição de vida. Os jogos mostrados em Round 6 são um experimento psicológico que demonstra um muito maior interesse em vencer do que em superar o jogo, mesmo quando a vitória significa o sofrimento ou até a morte do outro. Chega-se inclusive ao expediente do assassinato para a obtenção da vitória.

A série também nos mostra a tendência gregária e idiótica da psicologia humana: quando se juntam em torno de um propósito determinado, os indivíduos se submetem totalmente ao império do objetivo proposto, e chegam ao cúmulo de comemorar o seu sucesso dentro de um quadro absolutamente deplorável, esquecendo-se completamente de que seria mil vezes melhor não participar da situação do que obter uma vitória dentro dela. É uma grande exibição da estupidez humana, e uma grande humilhação para aquele que deveria honrar a sua imagem e semelhança divina.

Por fim, em Round 6 também encontramos, na contrapartida da insanidade do masoquismo dos escravos, o sadismo dos seus donos no Sistema, que é representado na série pela presença dos clientes ricos que financiam e patrocinam os jogos. Sua diversão, por perversa que seja, é totalmente sustentada pela voluntária disposição dos escravos de se submeterem a todas as humilhações em troca da mera possibilidade de seu sucesso dentro do Sistema.

Isso nos mostra como o Sistema da Besta depende da Liberdade humana para se sustentar, bem como o próprio Pacto Ouroboros. Não adianta culpar o diabo, e nem os servidores do diabo, por todo o mal que realizam no mundo: essa maldade é permitida e autorizada pela anuência das próprias vítimas da maldade que rejeitam a liberdade que Deus lhes dá de viverem separados do Sistema. É a magia invencível do Annuit Coeptis, a anuência espiritual que eventualmente levará a humanidade ao Reino do Anticristo no fim dos tempos.

No último episódio da primeira temporada, Gi-hun consegue uma vingança moral contra o dono dos jogos, o Jogador nº 001, um idoso com doença terminal, ao ganhar sua última aposta de que uma pessoa na rua receberia ajuda em tempo. Essa vitória é totalmente vazia. Gi-hun está totalmente preso na dinâmica do jogo, e a prova disso está na sua própria necessidade de se vingar dos donos, tanto no final da primeira temporada, quanto na segunda.

E na segunda temporada, totalmente incapaz de considerar simbolicamente que o próximo Jogador nº 001 seria novamente envolvido com os organizadores, Gi-hun ignora sua exposição a Hwang In-ho, que é o próprio gerente da operação dos jogos. In-ho, sádico e perverso, possui aquela qualidade diabólica interessantíssima neste caso, que é uma especial sensibilidade e obsessão com a fraqueza moral alheia. Este vilão é o personagem mais desperto, espiritualmente falando, ainda que seja um agente maligno, porque ele sabe que o que realmente importa é a anuência espiritual dos participantes dos jogos. Finalmente In-ho consegue dominar Gi-hun quando este admite que para realizar a sua vingança contra os donos dos jogos está disposto a decidir pelo sacrifício de uma parte dos jogadores, no contexto da organização do seu motim armado. Essa fraqueza moral não passa despercebida, e é o meio pelo qual In-ho dominará moralmente, novamente na segunda temporada, o pobre Gi-hun. Exatamente como o diabo, In-ho não se permite atacar Gi-hun e trair sua confiança, até que este mostre claramente que merece ser atacado e traído, porque traiu em primeiro lugar o próprio Bem ao se permitir alguma maldade em nome de uma suposta justiça.

Com tudo isso Round 6 se mostra, estranhamente, como uma peça de entretenimento moderno que em boa parte é espiritualmente neutro, mas que decisivamente dá um testemunho valioso a favor do dom de Vigilância, ao menos para quem busca esse tipo de entendimento.

Nota espiritual: 5,3 (Calaquendi)

Humildade5
Presença5
Louvor5
Paixão4
Soberania5
Vigilância9
Discernimento4
Nota final5,3

Deixe um comentário