Tive recentemente a oportunidade de ver uns descarados falarem montes de coisas contra montes de gentes desde aquele ponto de vista tão privilegiado que é o do farisaísmo católico. Falo de pessoas inteligentes e capazes que simplesmente se recusam a pensar na sua Mater et Magistra com o mesmo espírito crítico que dirigem aos adversários da Coisa (termo de Chesterton).
Perguntei ao nosso amigo Chat GPT sobre essas supostas verdades católicas, e ele nos informa que são mentiras católicas. É claro que o Chat GPT faz parte de uma grande conspiração anti-católica, etc., o que nem precisa deixar de ser verdade para que essas mentiras continuem sendo mentirosas. Vou mostrar os resultados das minhas pesquisas para vocês, mas não sem fazer antes uma observação importante a respeito do problema da Cabala.
O que é a Cabala? É a recepção da Tradição Oral pelos judeus, precisamente aquela Tradição condenada por Jesus. Interessante notar o quanto o catolicismo se tornou uma continuidade do messianismo talmúdico e cabalista, com a pretensão de um totalitarismo secular em nome de Deus, para fazer a restauração do mundo e instaurar o Reino de Deus no tempo presente, ou seja, dentro da História da Queda. Reparamos na repetição dos erros judaicos dentro do costume católico, isto é, aquelas grandes traições da Religião: 1) a imposição de uma Tradição Oral contra a liberdade individual de consciência e responsabilidade; 2) o culto da oferta de sangue como sacrifício aceito por Deus para a reconciliação espiritual; 3) o incentivo da continuidade do Pecado Original, o Pacto Ouroboros, em continuidade à prática iniciada por Adão e Eva; 4) a ameaça de uma penalidade terrível por toda a Eternidade em caso de questionamento dessas práticas religiosas. São esses judeus enrustidos que querem nos fazer crer que Lutero e outros são cabalistas, etc. São esses que se recusam a receber a liberdade trazida por Cristo contra toda a mentira diabólica desde o princípio, o próprio Gênesis, e que não querem que outros recebam a Boa Notícia dessa liberdade.
Vejamos os resultados das minhas consultas sobre os temas específicos.

Pergunta: É verdade o que os católicos dizem sobre Martinho Lutero ter algum envolvimento com a Cabala judaica?
A ideia de que Martinho Lutero teria envolvimento com a cabala (ou que era “cabalista”) não é uma posição oficial ou comum do catolicismo, nem historicamente sustentada por evidências sólidas. No entanto, essa associação ocasional pode ter surgido em certos círculos polêmicos ou apologéticos, especialmente no contexto de reações católicas contra o protestantismo durante e após a Reforma.
Aqui estão alguns possíveis motivos pelos quais essa ideia surgiu em certos discursos:
1. Polêmicas religiosas e associação com heresias
Durante a Contra-Reforma, apologistas católicos (e também protestantes entre si) frequentemente acusavam uns aos outros de heresias, influências judaicas, gnósticas, ou cabalísticas, como forma de deslegitimar seus adversários. A cabala, sendo mística e associada a correntes esotéricas judaicas, era vista com desconfiança. Acusar alguém de simpatia pela cabala era uma forma de pintar essa pessoa como herética ou desviada da ortodoxia cristã.
2. Confusão com interesse por línguas e textos hebraicos
Lutero estudou hebraico para traduzir o Antigo Testamento e tinha contato com textos judaicos. Isso, para alguns, podia ser mal interpretado como uma simpatia pela cabala, já que muitos textos cabalísticos são escritos em hebraico. Na época, o simples fato de lidar com fontes judaicas já era motivo de suspeita para alguns setores conservadores.
3. Teorias conspiratórias posteriores
Especialmente em séculos posteriores (século XIX em diante), algumas teorias conspiratórias tentaram ligar Lutero ao judaísmo esotérico ou à maçonaria, muitas vezes como parte de narrativas antissemitas ou antiprotestantes. Essas teorias às vezes tentam criar uma cadeia de influência “herética” que incluiria o protestantismo, a cabala, os iluministas e a maçonaria.
4. Literatura marginal
Alguns autores católicos ultra-tradicionalistas ou esotéricos podem ter feito essa ligação, não com base em evidências históricas sérias, mas por conveniência teológica ou ideológica. Essas fontes, contudo, não representam a doutrina católica oficial.
Fato histórico:
Martinho Lutero era profundamente hostil ao judaísmo em seus escritos tardios, especialmente em textos como “Sobre os judeus e suas mentiras” (1543). Isso torna ainda mais improvável qualquer envolvimento sincero com a cabala judaica.

Pergunta: É verdade o que os católicos dizem sobre os cátaros, ou albigenses, que estes iam de cidade em cidade obrigando as mulheres a abortar, de modo que foi a população do sul da França que pediu ao Papa que organizasse uma Cruzada para detê-los?
Não, essa narrativa propagada por alguns setores católicos modernos sobre os cátaros — de que eles iam de cidade em cidade obrigando mulheres a abortar e que a população do sul da França pediu ao Papa uma cruzada para detê-los — não é historicamente precisa e carece de evidências confiáveis. Vamos separar os fatos históricos das distorções posteriores:
O que sabemos com base em fontes históricas confiáveis:
- Os cátaros (ou albigenses) eram um movimento cristão dualista ativo na região do Languedoc (sul da França) entre os séculos XII e XIII. Tinham crenças influenciadas pelo maniqueísmo, com uma visão dualista do mundo (espírito bom / matéria má), o que os colocava em oposição à Igreja Católica.
- Os cátaros pregavam uma vida ascética e condenavam o mundo material, o que incluía críticas ao casamento, à procriação e à Igreja Católica institucional. Os mais devotos (os “perfeitos”) evitavam relações sexuais, consumo de carne e riqueza.
- A Cruzada Albigense (1209–1229) foi convocada pelo Papa Inocêncio III, oficialmente para combater a heresia cátara, mas também envolvia interesses políticos e territoriais. O sul da França era relativamente autônomo e culturalmente distinto, o que incomodava o reino da França e a Igreja.
- Não há registros confiáveis de que os cátaros “obrigassem” mulheres a abortar ou praticassem tal política sistemática. As acusações de práticas “perversas” (como aborto, incesto ou canibalismo) são típicas de campanhas de difamação contra grupos hereges na Idade Média — e devem ser vistas com ceticismo, pois muitas vezes eram propagandas da Igreja para justificar a repressão.
A narrativa de que a população pediu ajuda ao Papa:
- A iniciativa da cruzada não partiu das populações locais, mas do Papa e de nobres do norte da França, interessados tanto em eliminar a heresia quanto em conquistar terras no sul.
- Muitos senhores locais do Languedoc protegeram ou toleraram os cátaros, o que mostra que não havia uma rejeição popular generalizada ao movimento.
Fontes históricas relevantes:
- “Montaillou: The Promised Land of Error” – Emmanuel Le Roy Ladurie (baseado em registros inquisitoriais)
- “The Perfect Heresy” – Stephen O’Shea
- “Heretics and Heroes” – Thomas Cahill
- Registros da Inquisição, como os de Bernard Gui, também revelam tanto sobre as crenças cátaras quanto sobre as táticas da repressão.
Conclusão:
A ideia de que os cátaros impunham abortos e que a cruzada foi um pedido popular é uma releitura distorcida e anacrônica, provavelmente usada para justificar ou minimizar a brutalidade da Cruzada Albigense. A verdade é mais complexa: envolveu conflito teológico, interesses políticos e repressão violenta de uma dissidência religiosa significativa.

Pergunta: É verdade o que os católicos afirmam, de que os Bogomilos praticavam a sodomia?
Não há evidências históricas confiáveis de que os Bogomilos, um movimento cristão dualista surgido no século X na região dos Bálcãs, praticassem a sodomia como parte de sua doutrina ou ritos religiosos. Essa acusação foi feita por seus oponentes — principalmente autoridades católicas e ortodoxas — e deve ser entendida dentro do contexto das polêmicas religiosas e perseguições da época.
A Igreja frequentemente atribuía aos hereges práticas sexuais consideradas desviantes (como sodomia, orgias, incesto) como forma de demonização e difamação, independentemente da veracidade dessas alegações. Esse padrão se repetiu com outros grupos considerados heréticos, como os cátaros e os valdenses.
Os Bogomilos, na verdade, pareciam praticar uma forma de ascetismo rigoroso, rejeitando a carne, o casamento, e outras expressões materiais e carnais da vida, o que contradiz diretamente a ideia de que promoviam ou toleravam práticas sexuais libertinas.
Em resumo:
Não, não é verdade no sentido de ser um fato historicamente comprovado. Essa alegação provavelmente fazia parte de uma campanha de propaganda religiosa contra o grupo.