Amar a Deus é uma questão de Justiça

Já me reclamaram, a partir de uma visão empesteada pelo vício religioso, que é muito difícil seguir as leis divinas, agradar a Deus, etc. Tudo isso é falso. O que Deus quer é que pratiquemos o bem que podemos praticar, e não o impossível. É claro que sempre podemos melhorar, o que cria uma condição de relação contínua com o Espírito Santo para que cresçamos na vida da Graça. Mas o impossível não faz parte do que se requer de nós.

Quando Jesus diz que devemos ser perfeitos como o nosso Pai é perfeito, ele afirma duas coisas: 1) que devemos ser generosíssimos no Perdão e na Misericórdia, que é o contexto imediato do que ele explicava; e 2) que em tudo aquilo que não podemos ser perfeitos ele próprio, Jesus Cristo, Filho do Homem, é perfeito por nós, bastando-nos portanto estarmos ligados à ele para que ele nos justifique perante o Pai.

O que atormenta o ser humano que se pensa cristão, mas que ainda precisa se converter, é o saco de mentiras religiosas que ele carrega nas costas por sua própria culpa. Depois de Jesus Cristo não há mais razão para a escravidão do pecado e da mentira. Ele nos libertou. Quem se mantém escravo da mentira depois de conhecer o Evangelho é agora mais responsável ainda por sua condição do que era antes de receber a Boa Notícia, especialmente quando isso se dá pela participação na mentira da Religião. Por isso Jesus diz que haverá mais misericórdia para Sodoma e Gomorra no Dia do Juízo do que para os religiosos, e que as prostitutas e os ladrões precederão aos religiosos na entrada da Salvação. Porque negar o Amor divino é pecar contra o Espírito Santo, é o pecado mortal que nega a própria essência da Salvação. Como pode querer viver para sempre, na imortalidade da Vida Eterna, aquele que ama a mentira e odeia a liberdade?

O Amor é uma questão de Justiça, tanto a Deus quanto ao próximo.

Amar a Deus é ser justo com Ele: não temos a vida e os bens da vida por nós mesmos, mas pela Graça. Se vivemos pela Graça, em Sua Presença, já não temos nenhuma pretensão de sermos bons ou de possuirmos qualquer bem senão pelo Amor divino, e assim somos fiéis e justos com Ele. É disso que se trata.

Amar ao próximo é ser justo com o próximo: faça ao outro como você espera que façam consigo, e não faça ao outro aquilo que não quer que te façam. Isso é o suficiente para que a Justiça divina impere sobre a Terra.

Deus só quer de nós essa Justiça de ser reconhecido no seu Amor, como nosso Pai, e que reconheçamos o próximo como seu filho, nosso irmão. É só isso. Essa é a Lei. A Lei é o Amor. Mas os homens preferiram a mentira.

O que sempre arruinou a simplicidade dessa experiência é o espírito de Presunção que criou ambições fora do âmbito do Amor divino e do amor ao próximo, ou seja, ambições contrárias à Lei divina. E nenhuma ambição é pior e mais cheia de terríveis consequências do que o Pecado Original.

Em favor daquilo que identifiquei como a hipótese da Melhor Geração (ou “Última Geração”, no meu livro A Coruscância), é um dever cristão reconhecer a grande generosidade de Deus, mesmo em relação à nossa condição já tão avançada de desenvolvimento da decadência e da corrupção do nosso decaimento. Sim, nosso Senhor é generoso. E o que nos custa colher os frutos da sua generosidade? Apenas abandonar a Pretensão de viver alheios à sua Vontade.

A maior parte da humanidade vive tragada pelo costume de traição contra o Amor e contra a Sabedoria de Deus. E não faz muita questão de se libertar. Isso é provado pelo desprezo com que os próprios assim chamados “cristãos” tratam a liberdade que Jesus lhes ofereceu e que desprezam todos os dias, fazendo-se escravos dos homens, e de mandamentos e costumes humanos.

Vamos deixar uma coisa muito clara aqui, especialmente para aqueles que pensam que isso tudo pode ser muito vago e impreciso: o Pecado Original é uma coisa muito exata e precisa.

Senão vejamos: feito à imagem e semelhança de Deus, o homem recebeu seu Intelecto e sua Vontade para conhecer a verdade e amar o bem. Quando não realiza essas metas, o ser humano frustra o sentido de sua vida. E todas as vezes que o ser humano se refugia na mentira de suas falsas ambições de poder sem Deus ele busca uma compensação vazia pela sua falha em buscar a verdade e o bem apenas em Deus. Esses serão os “fortes” que julgarão como fracos os que renunciam à mentira para buscar apenas a vida da Graça, na Presença.

Quando olho ao meu redor, vejo a abundância provida pela Graça sendo desperdiçada em vidas sem sentido, cheias de vaidade, ganância, disputas pelo poder, etc. Se a Graça fosse usada apenas para favorecer o relacionamento com Deus, quão fácil seria alterar essa condição?

Mas a maior parte dos seres humanos não quer isso, como prova o costume da perpetuação do Pecado Original.

Quem multiplica a Necessidade (no sentido grego da ἀνάγκη — anánkē) não deseja viver o benefício espiritual do provimento da Graça. Ao invés de bloquear o mal com a Cruz dada por Jesus, o Caminho, que nos ensinou a nos tornar Filhos de Deus, os Filhos de Adão querem multiplicar o mal que lhes foi feito originalmente, como se essa fosse a vontade de Deus para si. Não aceitam a liberdade, e um espírito maligno os atormenta e os lança na falsa solução do costume. Transformam uma deliberação livre de outros seres humanos num destino fatal.

Mas como poderá amar a Deus e realizar a correta finalidade da Vontade humana aquele que não vive pela Graça, mas permanece atormentado pelas consequências da sua rejeição da liberdade em Deus? E como poderá também este conhecer a Verdade e realizar a correta finalidade do Intelecto?

Não existe amor ao Bem e conhecimento da Verdade para quem deseja ser escravo da mentira e do mal. Só existe o salário do pecado, que é a morte. Tudo muito justo.

Como posso falar do Amor de Deus para quem está esmigalhando a Graça com suas ambições mundanas, alheio ao contentamento e, principalmente, ao dom do Louvor e da Presença? Quem não quer viver pela Graça e não quer esperar pelo Paraíso já vive a sua própria morte. Um morto não pode ouvir as palavras de Jesus, a Árvore da Vida, porque é como um ramo cortado.

Como posso falar da Sabedoria de Deus para quem quer usar toda a sua capacidade para entender de tudo, menos do sentido de sua própria existência e das coisas divinas?

Entendem?

Não existe Evangelho de verdade e não existe Filosofia de verdade PARA ESCRAVOS.

NÃO SE PODE FALAR DE LIBERDADE, AMOR E VERDADE PARA ESCRAVOS.

Os escravos ouvem, mas não entendem.

E não entendem não porque não conseguem, mas porque não querem.

Que assim seja, Deus seja louvado para sempre.

PS: tecnicamente falando, é inválida a omissão no amor a Deus pela justificativa de que há qualquer grau de sofrimento causado pelo uso discricionário da Arbitragem do Excesso de Mistura, seja por aquele que se omite, ou por terceiro.

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