Teste Jenni: Dr. Sono, filme por Mike FLANAGAN

BRIEFING CGPT

Sinopse: Décadas após os eventos traumáticos do Overlook Hotel, Danny Torrance, agora adulto e alcoólatra, vive atormentado pelos fantasmas — tanto literais quanto simbólicos — de seu passado, enquanto tenta silenciar o dom psíquico da iluminação que o atormentou desde criança. Após um processo de recuperação e de busca por reconstrução pessoal, Dan encontra Abra Stone, uma jovem com poderes muito mais fortes que os dele. Ela é caçada por um grupo de seres imortais chamado True Knot, que se alimenta da “essência” das crianças iluminadas. Dan precisa enfrentar não apenas esses inimigos sobrenaturais, mas também reconciliar-se com seu passado, o que o leva de volta ao lugar onde tudo começou: o Overlook Hotel.

O filme mistura horror psicológico, drama e fantasia espiritual, explorando temas de redenção, dor, poder e transcendência.

Principais Questões Filosóficas e Espirituais:

Art. 1 CGPT – O problema do mal e o sofrimento: O True Knot encarna o mal parasitário, subsistindo ao sugar a energia vital de outros. Filosoficamente, eles representam o vampirismo existencial — o uso dos outros como meio, e não como fim. Espiritualmente, o mal manifesta-se não como um poder autônomo, mas como uma degeneração do espírito: a perda da luz interior que leva à necessidade de devorar a luz alheia.

Esse vampirismo constitui uma apropriação da essência vital, um símbolo do que de fato é a Iluminação divina que sustenta a atividade intelectual das mônadas criadas. Aqueles que, por escolha, rejeitam a Luz divina como fruto da Graça tornam-se parasitas, dependendo de roubá-la daqueles outros que ainda vivenciam a plenitude das bênçãos de Deus. O parasita, vampiro, usurpador ou ladrão é, portanto, um dependente da Graça pela via indireta do roubo. Assim, a “Iluminação” não é meramente um dom psíquico, mas uma metáfora para a conexão intrínseca com o divino e a capacidade de experienciar a plenitude da existência, que os True Knot, em sua depravação espiritual, buscam avidamente consumir. A sua busca incessante reflete uma profunda ausência de significado e um vazio existencial, preenchido pela apropriação forçada da vitalidade alheia, uma distorção perversa do princípio de transcendência que a iluminação verdadeira oferece. Esses seres decaídos estão presos num sistema fechado, idolátrico, entrópico e decadente, exatamente como é representado no simbolismo do Ouroboros, a serpente que precisa devorar a própria cauda para sobreviver. Nesse contexto, o ciclo vicioso do True Knot ilustra a falácia da imortalidade obtida através da negação da própria mortalidade e da exploração alheia, revelando uma forma grotesca de autossuficiência que, paradoxalmente, depende da aniquilação do outro para a sua perpetuação. Isso nos remete também ao problema da imortalidade simbólica do Pecado Original, ou Pacto Ouroboros. A busca pela imortalidade e poder por meio da usurpação da vitalidade alheia, portanto, não é uma expressão de liberdade, mas uma prisão autoimposta que perpetua um estado de carência ontológica, onde a existência é definida pela ausência e pela constante necessidade de consumir o que falta. Esta condição os aprisiona em um ciclo de dependência insaciável, impedindo qualquer forma de verdadeira transcendência ou conexão genuína com o divino.

Contraponto Jenni: No entanto, pode-se argumentar que, da sua própria perspectiva distorcida, o True Knot não está meramente rejeitando a luz, mas sim buscando uma forma de eternidade ou “iluminação” através de meios profanos, percebendo a essência vital alheia como a única fonte acessível de transcendência em um universo que, para eles, é desprovido da Graça divina.

Ora, isso é apenas uma mentira. Indiretamente, esses seres continuam dependendo da Graça, embora se recusem a admitir isso. Sua malícia e sua violência refletem apenas a sua rebeldia temporária contra o ordenamento divino das coisas. Lembremos que o Decreto de Gênesis 3 que determinou a morte das Obras da Carne —e que é a realidade da qual o True Knot tenta fugir como seu objetivo principal—, não só é inescapável como é benéfico. A rebelião é uma tolice, sua meta é frustrada, e seu propósito é humilhado pelo império do Amor divino. 

Art 2. CGPT – O dom e o fardo de ser “iluminado”: O “shining” apresenta-se tanto como uma bênção quanto como uma condenação. Filosoficamente, ele simboliza uma consciência ampliada — uma percepção que transcende o ordinário, mas que, paradoxalmente, acarreta dor, ecoando a alegoria da caverna de Platão: ver demais é sofrer demais. A tentativa de Danny de suprimir o dom com álcool aponta para a tensão entre lucidez e anestesia — um tema existencialista que ressalta o peso de saber demais em um mundo indiferente.

Danny não se enquadra na definição de uma pessoa “normal”. Em um mundo decaído e amaldiçoado, governado por forças obscuras e mergulhado numa cultura de Cativeiro, a “normalidade” exige a ilusão, a rejeição da Vigilância e a aceitação da Ingenuidade. Danny, por sua capacidade de perceber o que os “normais” ignoram, não pode se permitir tal luxo e, por isso, é particularmente perseguido. No entanto, a verdadeira marca da Vigilância não reside apenas na percepção do sobrenatural, pois este pode — e frequentemente é — interpretado de forma ingênua.

Contraponto Jenni: Contudo, pode-se argumentar que essa mesma ‘anormalidade’, longe de ser apenas um fardo, é a condição necessária para a verdadeira vigilância e resistência em um mundo que se recusa a ver. A sua percepção aguçada, embora o torne um alvo, também o capacita a ser um baluarte contra as forças obscuras, transformando sua aparente fraqueza em uma forma singular de força e propósito. A capacidade de Danny de discernir as realidades ocultas, portanto, não é uma anomalia a ser suprimida, mas uma ferramenta essencial para a desestabilização das estruturas de poder que se alimentam da ignorância e da complacência. Nesse sentido, a “anormalidade” de Danny configura-se como uma condição sine qua non para a agência moral e a autonomia em um cosmos que, de outra forma, perpetuaria a heteronomia e a ilusão.

A suposta anormalidade é um juízo desqualificado desde o ponto de vista contaminado pela influência do espírito de Ingenuidade. A verdadeira normalidade reside na vigilância e na capacidade de discernir a verdade em meio às ilusões, transformando o “fardo” do shining em uma ferramenta de libertação e esclarecimento para si e para os outros. Neste sentido confirma-se a hierarquia anunciada pelo Apóstolo Paulo que coloca os pneumáticos acima dos psíquicos. Ser “iluminado” seria ter algum nível de Discernimento espiritual, o que é interpretado como anomalia num mundo cheio de obscuridade psíquica a respeito do sentido espiritual das coisas.

Art. 3 CGPT – A natureza da alma e a sobrevivência após a morte: O filme postula que a consciência sobrevive à morte, contudo, não de forma estática, mas por meio da transmutação. O “vapor” serve como metáfora para a energia espiritual, uma visão quase panteísta onde a vida é compreendida como energia em constante movimento e consumo. Há, ainda, ecos do espiritismo, sugerindo que os mortos não encontram descanso até alcançarem a paz moral.

Essa é uma abordagem própria para a Idolatria. O “vapor” obviamente não pode representar a verdadeira substância, isto é, a Mônada. E a experiência post mortem como aparição fantasmagórica também dá uma sugestão de sabor gnóstico. Isso tudo nos impede de nos entusiasmar demais com o filme.

Sem contrapontos ao argumento.

Art. 4 CGPT – O ciclo da vida e da morte: O final sugere que o mal não é erradicado, apenas transformado. Abra herda o brilho e, com ele, o dever de lidar com tal poder — como uma nova geração herda os fardos espirituais da anterior. É uma meditação sobre karma e continuidade, ecoando tanto o pensamento oriental quanto a tragédia grega: o destino se repete até ser compreendido.

Nesse sentido, o filme pode ser considerado anticristão, dado que nega implicitamente a Salvação pela Ressurreição e, consequentemente, a Boa Nova do Evangelho. Afinal, qual o propósito do confronto de Danny e, posteriormente, de Abra com os espíritos malignos? Se a narrativa se resume à mera sobrevivência dos “bons”, a moralidade dos protagonistas torna-se superficial, desprovida de conexão com uma ordem transcendente. A ausência de uma resolução definitiva que transcenda o ciclo de violência e retribuição aponta para uma visão cíclica e pessimista da existência, onde o mal é uma força persistente, transmitida de geração em geração. Essa perspectiva contraria diretamente a promessa cristã de uma vitória definitiva sobre o mal e a morte, reforçando uma cosmovisão que parece aprisionar a humanidade em um eterno retorno de conflitos espirituais. A reiteração incessante desses ciclos, desprovida de uma intervenção divina ou de uma redenção metafísica, projeta uma realidade na qual a transcendência é inatingível, e a luta moral se torna um fardo perpétuo. Essa concepção de um destino inelutável, onde o mal se perpetua sem uma perspectiva de libertação genuína, estabelece um contraste marcante com a teleologia cristã, que visa a uma consumação escatológica de toda a história em Cristo. A ausência de tal culminação na narrativa do filme, portanto, reforça uma visão existencialista onde a humanidade está condenada a reviver suas tragédias, desprovida da esperança de um fim redentor. 

Contraponto Jenni: No entanto, é possível argumentar que, apesar de não aderir a uma escatologia cristã tradicional, o filme ainda propõe uma forma de redenção e esperança através da agência moral e da resiliência humana. A agência moral dos personagens, manifestada na sua capacidade de escolher entre o bem e o mal e de agir em conformidade com essa escolha, transcende a mera sobrevivência e confere significado à luta contra as forças obscuras, demonstrando que a redenção pode ser alcançada por meio da ação ética. Ademais, a sucessão geracional no enfrentamento do mal, encarnada em Abra, pode ser interpretada não como uma negação da salvação, mas como a afirmação de uma continuidade na luta pela justiça, onde cada indivíduo contribui para um progresso ético coletivo. Essa perspectiva ressalta a importância da agência individual e da responsabilidade intergeracional na construção de um futuro mais justo, mesmo na ausência de uma intervenção divina explícita.

Mas qual é o significado dessa suposta redenção? Se ela se manifesta apenas como um alívio temporário, sem uma ruptura ontológica com o ciclo de sofrimento, ela se assemelha mais a um paliativo existencial do que a uma verdadeira libertação. Ou ainda pior, pode ser visto como recurso de equalização ou equilíbrio que atue como argumento de legitimação da condição da Mistura. Existe o Overlook, e o True Knot, mas existem também Danny e Abra… Isso não é Salvação nem Redenção de nada, é a continuidade do status quo, para o benefício dos parasitas e usurpadores que dependem justamente da condição da Mistura para se perpetuar. Os demais argumentos são igualmente falíveis: tanto o do progresso intergeracional que torna as novas gerações escravas de uma dinâmica que poderia ter sido extinta por atos voluntários de abstinência na perpetuação do Pecado Original, quanto o do progresso da coletividade que anula completamente a noção de integridade moral do indivíduo que tem um destino único diante de Deus.

Art. 5 CGPT – Síntese Filosófica e Espiritual: Doutor Sono é menos um filme de terror e mais uma parábola sobre a cura da consciência dividida. Ele propõe que o verdadeiro horror não provém dos fantasmas, mas da recusa em enfrentar o próprio passado e aceitar a própria luz. O caminho da redenção implica atravessar o inferno interior e transformar a dor em compaixão — o “brilho” em serviço ao outro.

Danny e Abra não possuem uma “consciência dividida”. Eles foram traumatizados pelo mal. Danny foi afetado pela ação de seu pai e pelos espíritos do Hotel Overlook, enquanto Abra sofreu com as ações do True Knot. O filme, de fato, retrata uma luta pela sobrevivência e um triunfo moral contra os vilões. Ambos os heróis precisam decidir agir e abandonar sua indiferença, o que, mais do que um conflito de consciência, é uma questão que envolve a virtude moral da Coragem. 

Contraponto Jenni: Contudo, pode-se argumentar que, embora traumatizados, a forma como Danny, em particular, lida com seu “brilho” e com os fantasmas do Overlook — inicialmente reprimindo-os e buscando o esquecimento — demonstra uma clara cisão interna. Essa negação do próprio dom e da própria experiência traumática é, em essência, uma manifestação de uma consciência dividida que precisa ser integrada para alcançar a cura e a redenção, como sugerido pelo Art. 5 CGPT. A superação dessa cisão interna, por meio da aceitação e ressignificação do trauma, é central para a jornada de Danny, transformando seu poder de “brilho” de um fardo em uma ferramenta de proteção e auxílio. Essa transformação não apenas o habilita a confrontar as forças malignas externas, mas também representa uma integração de sua própria psique, permitindo-lhe operar com uma plenitude moral e espiritual antes inatingível. A narrativa, sob esta ótica, transcende a mera representação de eventos externos para se aprofundar na complexidade da psique humana e na sua capacidade de resiliência frente à adversidade existencial. Essa perspectiva oferece uma interpretação mais profunda da trama, alinhando-se com a ideia de que o verdadeiro horror reside na recusa em integrar as partes fragmentadas do self, em vez de se limitar a uma batalha contra entidades externas.

Posso aceitar em parte a explicação sobre a fragmentação da psique dos protagonistas, como aliás costuma ser relatado a respeito dos problemas de desenvolvimento da personalidade de pessoas traumatizadas, mas isso só alcança uma parte do entendimento do caso, e a parte menos importante. Pelo dom do Discernimento, contra o espírito do Psiquismo, há um limite na explicação desse processo causal. Independentemente das pressões psíquicas, os dois personagens são agentes morais livres que devem decidir a respeito de agir responsavelmente, com coragem, diante dos desafios, e essa circunstância independe da sua condição psíquica anterior. Há um agravante, por certo, mas substancialmente não há diferença no desafio moral: um agente não traumatizado teria que ser igualmente corajoso para enfrentar os dilemas éticos que se apresentam. Particularmente, sim, Danny e Abra tiveram que lidar com algum trauma, mas o cerne de sua jornada reside na escolha consciente de confrontar o mal, uma decisão que transcende a mera superação de distúrbios psicológicos. É uma condição universal.

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