
Nada é mais característico da rebelião contra o Amor divino do que o fatalismo derrotista que tenta compensar a sua impotência espiritual com atos de efeito moral numa dimensão inferior, com o objetivo de escandalizar e aterrorizar.
A antiga Serpente do Mundo sabe muito bem que nada pode contra a supremacia divina. Resta-lhe, assim, contar com a fraqueza humana que abre uma brecha através da anuência espiritual da rejeição do Amor. Todo ataque espiritual contra os seres humanos tem sempre o mesmo objetivo final, infalivelmente: abalar a confiança no Amor divino, isto é, a Fé. Sem essa confiança, o ser humano está espiritualmente desarmado, vulnerável e perdido, errante num cosmos hostil e caótico.
Devemos dar um panorama estratégico ao nosso semelhante, compartilhando um pouco do que é a perspectiva do outro lado da frente de batalha, para que se tenha uma idéia do grau de desespero do inimigo. Sobretudo não podemos perder de vista que a agressividade do Mal deriva de sua profunda angústia, e de seu grande e elementar medo de Deus.
O próprio tempo simboliza a inevitabilidade da execução da sentença divina. Por isso podemos dizer, com firmeza, que o tempo é nosso aliado, isto é, se somos buscadores de Deus e amantes de seu Amor. O tempo sempre nos ajuda. Sua passagem garante a contínua consecução de um plano providencial, e a chegada de grandes e importantes determinações nas vidas de todos nós.
O tempo revela que o Amor é sempre vitorioso, mesmo neste mundo decaído, seja como consequência do progresso humano ou da falta deste.
Quando há progresso, fica evidente o abuso contra a crescente liberdade humana permitida pelas conquistas materiais da civilização, o que tende a pressionar na direção da emancipação dos escravos, então das mulheres, e finalmente dos filhos. É o protesto do Amor contra o Poder.
Quando não há progresso por qualquer razão, fica evidente a absurdidade de uma existência amaldiçoada, o que levará a uma negação a esse estado de coisas, sob quaisquer formas, seja pelo processo direto de liberação da descendência, ou indiretamente pela autodestruição, ou pela perseguição da emancipação através de alguma revolução, o que leva de volta ao progresso. É o protesto do Amor contra a Maldição.
De qualquer modo, é o Amor quem dá o Norte a todos os seres, mesmo quando estes estão pervertidos por alguma mentira profunda, como ocorreu com este mundo em particular, submetido à malícia do Pacto Ouroboros. Reparem que o ser humano não teria nenhuma energia para perseguir qualquer alvo, se este ao menos não se assemelhasse ao ideal do Amor verdadeiro, que é o que o leva à busca da liberdade revolucionária, ainda que esta seja desviada para a realidade exterior do homem, o que é evidentemente um erro. O alvo pontual é errado, mas o alvo espiritual é mais ou menos sempre o análogo mais próximo do plano divino. É assim que o diabo e seus auxiliares servem inescapavelmente ao plano do Criador de todas as coisas, levando mesmo o ser humano decaído e corrompido a um final onde o Amor será revelado como a verdadeira meta espiritual. Nosso Deus, que é o único, o verdadeiro, governa sobre todas as coisas com absoluta supremacia. Esquecer isso é descumprir o mandamento do Amor a Deus.
Muitos “cristãos” são confundidos por essa quadrilha de traidores que são os chefes religiosos, levados a crer exatamente no contrário: que o mundo fatalmente jaz no maligno como se algo de errado tivesse acontecido e nós estivéssemos rendidos, entregues ao poder do Inimigo. Nenhuma visão poderia ser mais falsa. Isso é Gnosticismo, a crença no demônio como demiurgo que nos prendeu numa realidade distante da verdadeira divindade. Ora, para o ser humano isso poderia ser verdade, desde o seu miserável ponto de vista. Mas para Deus toda essa configuração é irrelevante, e não há quem possa limitar o seu gesto de salvação no mínimo que seja. Quem pode nos afastar do Amor do nosso Pai? Ninguém a não ser nós mesmos, aprendizes da desconfiança luciferina, da dúvida infernal, da malícia das trevas. Tudo isso é uma questão de escolha.
Entendam, irmãos: até com as mais avançadas técnicas e planejamentos, com o engano mais elaborado e sutil, em tudo isso os Avari e os Moriquendi apenas servem ao nosso Senhor. E quanto mais acham que vencem e crescem em poder, mais se submetem a uma Providência poderosa que os submete.
Toda essa rebelião é passageira e, no devido tempo, observaremos como não passou de um aborrecimento para a história de nossas almas destinadas à imortalidade. O Altíssimo mesmo prometeu que tudo isso será em breve esquecido. Não se deixem intimidar por nada.
O mundo da usurpação felizmente está perdido e tem seus dias contados. Negue o mundo em seu coração e deixe-o para trás, e assim estará deixando toda a Perdição também para trás.
Questão: Essa visão parecerá impraticável e idealista demais aos olhos mundanos, não é?
Isso sempre foi assim e sempre vai ser assim até o fim do mundo. Nossa entrega espiritual ao Amor divino é insuportável aos que já pactuaram com o espírito do mundo. Deixe que os presunçosos se julguem sábios na sua maturidade fingida. Já desprezaram faz tempo toda a dignidade de suas próprias almas, toda Consciência, toda Responsabilidade. Falando francamente, são quase animais, e se identificam profundamente com essa animalidade, embora se julguem detentores de grandes direitos “humanos”, todos esses fundados no pó, é claro, ao qual não vão escapar se não encontrarem logo a santidade da desistência. É curioso que os humanistas são os que mais desprezam a verdadeira dignidade humana, que é o privilégio sagrado da eleição do Amor divino.
Questão: Sobre a questão do progresso, a luta do Conservadorismo contra a Revolução Permanente não conseguiria sair, portanto, dessa dialética?
Claro que não. É uma questão básica de princípios. O que há para ser conservado, se este mundo humano foi fundado numa mentira, no roubo, na traição, na usurpação? É isto o que queremos conservar? O legado de rebelião dos nossos pais contra o Amor divino? Não faz o menor sentido, espiritualmente. Mas faz sentido do ponto de vista do poder, já que a Conservação é necessária como defesa contra o absurdo da Revolução Exterior. É daí que a reação parece ser verdadeira, porque luta contra uma grande ameaça de desordem. Esse esquema é infalível. Poucos seres humanos conseguem superar essa dialética. O escândalo e o terror servem para isso: para consolidar mais profundamente o Grande Pacto Primordial. Toda energia responsiva que poderia ser legítima é desviada e canalizada para essas revoluções inúteis, a impotente tentativa de reforma do homem decaído.
O problema do progresso material, do ponto de vista do adversário, é que ele trará inevitavelmente maior progresso moral na forma da descoberta e do desenvolvimento da individuação humana. É um fato que no começo isso é lento, para poucas almas de cada vez. Mas aos poucos a liberdade contagia e se impregna. E em tempo o inimigo teria diante de si, mesmo que por meios não-teístas, um Antinatalismo naturalista e evolucionista, que apesar de não ser espiritualmente esclarecido poderia ser o suficiente para explicar, por exemplo, o Paradoxo de Fermi, e encaminhar a humanidade nesta direção como uma conclusão espontânea e impecável da sua racionalidade, em resposta à questão da Antropodisséia.
Questão: Isto parece estar tão distante do mundo em que vivemos. Será possível que as coisas chegassem a esse ponto?
Sim, basta refletir com alguma frieza e distanciamento. Ajuda nisso a lembrança da grandeza da Criação, no sentido do Omniverso. Vivemos oprimidos pela mesquinharia deste mundo, e dessa gente que acha que o seu destino mundano é uma grande coisa. Nossos líderes são cegos e mentirosos. Todos eles! Quem é que se levanta para dar o testemunho da pureza do Amor do Eterno? Quem é que revela que o Amor Dele nos basta? Esse testemunho é muito raro, e praticamente inexistente entre aqueles que devem satisfações ao respeito humano, esses escravos cujo deus é o ventre.
Esqueça tudo isso. Verifique a realidade em que vivemos. Onde o progresso já foi suficiente, a mulher já está emancipada. Um ser humano já tem o direito de escolher a mendicância no lugar da participação no Sistema da Besta. Sua escravidão não é nem justificada, e nem recomendada. E a mulher já pode viver uma vida inteira livre dos papéis de esposa e mãe, se quiser, sem que isso lhe seja imputado como crime. Ainda que haja ainda uma cultura de rejeição a essa liberdade, aos poucos as novas gerações abandonam os grilhões dos seus pais, precisamente porque a liberdade custa cada vez menos, materialmente falando. O próximo passo, já antevisto por uma cultura antinatalista embrionária, é a libertação dos filhos.
Isso é algo que os Avari não podem permitir, é claro. Mas a tentação de ter gerações de pessoas submetidas ao seu Sistema, já que isso é uma condição dessa emancipação através do progresso material, é grande demais e irresistível. Nenhum demônio pode abrir mão desse grau de controle, ainda que isso signifique a abertura de um espaço para a liberdade humana. Confiam na sua capacidade de condicionar essa humanidade emancipada numa forma mais sofisticada de escravidão. E não deixa de ser verdade que têm sucesso nisso. A questão é que cada cristão verdadeiro pode tirar proveito dessas condições de progresso material e moral para avançar no seu relacionamento com Deus às expensas desse plano demoníaco.
Questão: Mas isso não chegaria a um ponto em que já não seria possível viver a liberdade verdadeira dentro do Sistema?
Os cristãos espirituais jamais terão problemas com esse tipo de coisa. Porque Deus garante o sucesso da nossa busca espiritual, quando o seu Amor é o alvo. Isso é infalível, mais certo que qualquer conta aritmética ou proposição geométrica. No coração do fiel, ele sabe que é assim.
Se você precisar de uma afirmação disso, reflita sobre como o fim da liberdade já representa uma maior definição espiritual, justamente o tempo da Marca da Besta, quando o Inimigo vai ter que se expor à luz do dia. Não é uma grande ironia? O momento de maior triunfo para o mal será também o momento da sua maior vulnerabilidade. Porque sua subsistência era permitida enquanto ele servia justamente a um desígnio superior. Conforme consolidar-se a armadilha contra toda a liberdade humana, é verdade que os que ainda estiverem neste mundo serão perseguidos, exilados ou exterminados, mas isso só lhes deixará clara a opção espiritual de todas as partes envolvidas.
Entendam: quando o inimigo age nas sombras, ele age ambiguamente, e desse modo está a serviço do Criador que pode converter os meios diabólicos em instrumentos da sua Providência em favor dos seus amantes. Quando finalmente os Avari agirem às claras, não servirão mais da mesma forma, mas porque sua ambiguidade desaparecerá eles servirão no sentido da clareza do testemunho da escolha pela confiança no Amor divino, já que a rejeição do Sistema representará, ipso facto, a rejeição do mal.
Em suma, quem tem que se preocupar com a passagem e com os sinais dos tempos é o outro lado que quer disputar poder com Deus, ou aqueles que servem a esse mal, ou ainda os que preferem a ignorância e a ingenuidade. Deixe que estes se apavorem, porque de fato eles têm motivo.
Questão: Mudando o assunto, o que se pode dizer da idéia de que os poderes infernais querem reclamar a alma humana como sua propriedade, através dos pecados e da revolta contra a autoridade divina?
Não existe Direito onde não há Justiça, e não há Justiça onde não há Misericórdia. O inimigo não age a serviço porque quer, mas porque não tem escolha. O diabo não é um servidor da Justiça. Ele é um mentiroso, ladrão e assassino. Suas reclamações podem ser desprezadas. A Serpente não tem direito a nada. O Acusador foi acusado por Jesus, o véu foi rasgado e a verdade foi revelada, a quem tiver desejado o discernimento.
O pecado humano é a recusa do Amor. Quem recusa o Amor recusa a Misericórdia, e quem recusa a Misericórdia recusa a Justiça. Estes que fazem isso estão nas mãos do diabo não porque este tenha direito a alguma coisa, mas porque são espiritualmente alinhados, porque combinam bem uns com os outros.
Por isso digo que não há maior colaboração com o mal do que a acusação do semelhante através do serviço religioso. Os acusadores são funcionários do inferno. E a religião é uma proposta gnóstica, inescapavelmente, atribuindo poder ao diabo e a salvação ao conhecimento de Deus, como se a santidade fosse um mérito humano.
Isso tudo é assim para que a Obra de Deus seja reconhecida como a mais perfeita possível, mostrando a salvação somente a quem tem a humildade de crer na pureza do seu Amor.
Questão: Quer dizer, esta reclamação dos Avari funciona no máximo como analogia?
Nem como analogia funciona direito.
Se eu minto para você dizendo que uma pessoa deseja o seu mal, e você acredita em mim sem verificar a verdade do que eu disse, e então você colhe como resultado uma grande desgraça porque abriu mão do maior benefício que poderia ter obtido na vida através da relação com aquela pessoa de quem desconfiou e se afastou, eu estou “reclamando” a sua alma?
Não estou reclamando nada. Sou um mentiroso cujo mérito foi espalhar a minha mentira enganando outras pessoas. Diante do benfeitor, que é a única perspectiva que interessa, não estou fazendo nenhuma justiça. No máximo estou colaborando para que uma decisão livre seja tomada por uma pessoa que precisa decidir-se realmente sobre a questão da confiança no benfeitor. Mas não sirvo por amor à justiça, e sim por ódio ao bem.
O diabo não tem o direito de reclamar nada. Ele é escravizado pela sua própria malícia, se você pensar bem, porque através dela é forçado a servir à Justiça que ele mesmo odeia. Serve por mal, contra a sua vontade, e tentando enganar até o fim, inclusive com esse papo de que tem direitos.
Questão: Como é possível que os Avari enganem os cristãos com essa visão?
Eles não enganam os cristãos. Enganam os religiosos, que são os mesmos que vão dar as boas vindas ao Anticristo.