Se há algo forte o suficiente para se manter firme por sua própria virtude, é certamente a própria Verdade.
Resolvida qualquer confusão que possa haver entre a experiência subjetiva de uma verdade relativa e a necessidade de uma verdade objetiva, mesmo que esta escape completamente ao nosso domínio, resta-nos a tranquilidade do repouso de saber que o que é, é, e que o que não é, não é. Tiramos da autoevidência da supremacia da Verdade até mesmo os nossos princípios elementares de qualquer lógica possível, a saber, os de identidade, não-contradição, e terceiro excluso, razões supremas de qualquer conhecimento possível não produzidas como invenções, mas deduzidas como descobertas.
Vencida essa etapa epistemológica que ainda pode amolecer algumas mentes menos acostumadas com os rigores da ontologia geral, ou Filosofia Primeira, podemos entender como escapa obviamente ao domínio humano o poder de decretar que algo seja verdadeiro, de vez que a força da evidência torna o testemunho humano apenas um indicador de uma realidade transcendente a todo discurso possível. O papel humano não é o de produzir a verdade, mas de reconhecê-la e apontar para ela com maior ou menor eficiência. E faz parte desse recurso humano à investigação do império da Verdade que lhe é exterior e invencível, desnecessitada de defesa, a manutenção da liberdade de investigação e inquirição de tudo aquilo que não for universalmente considerado pacífico.
Assim, discute-se tudo o que é discutível, e o indiscutível não precisa ser defendido pela razão mesma –e exclusiva!– de que ninguém quer, ou consegue, fazer isso.
Mas quem segura a criatividade da nossa espécie para a propagação da mentira e para a perversão de todas as coisas?
Há “verdades” que são tão obviamente contestáveis, e diríamos que perigosamente contestáveis para determinados interesses de certos poderes, que precisam ser ridiculamente obrigadas por decretos humanos. A ousadia desse absurdo não precisaria ser explicada, é claro, mas aqui estamos nós, à beira do Fim do Mundo, tentando dar conta dos tempos em que vivemos.
Podemos usar como princípio elementar que qualquer verdade obrigatória por lei humana –e que fique claro que se trata de uma versão histórica da verdade, e não de um princípio moral necessário para a manutenção da ordem social– e cuja contestação incorra em punição, deve ser imediatamente considerada falsificável ainda mais do que o seria normalmente pelo método científico, justamente pelo agravante do uso do poder público para a sua proteção.
Quer fazer uma experiência para verificar que tipo de assunto entra nessa sistemática?
Experimente, por exemplo, gravar um vídeo no Youtube que verse claramente sobre quaisquer um desses temas:
- Mudanças climáticas
- Holocausto
- Covid-19
- Família Rothschild
- Maçonaria
- Atentados de 11/Setembro
Provavelmente você vai receber uma sinalização da plataforma indicando que há uma verdade estabelecida sobre o assunto, com a indicação, por exemplo, de um artigo no site Wikipedia.
Nosso dever de consciência é o de mantermos a mínima dignidade necessária à estatura da inteligência humana e recusar interiormente qualquer verdade imposta por vontade ou capricho de desejo de um grupo de interesses, qualquer que seja.
Reparem que não estou falando que esta ou aquela teoria da conspiração tenha embasamento real. Não é disso que se trata. Falo da absurdidade da proibição de um assunto como tema de investigação, pesquisa e entendimento.
O que honra realmente a Verdade na sua completude não é a sua imposição num molde acabado, mas a sua busca com a premissa de que ela nunca nos pertence completamente.