Livra-me do cativeiro e livrai de mim os meus cativos

Entre as mais interessantes idéias da exploração de 2017 encontrei três delas boas o suficiente para uma reciclagem atual, a saber:

  1. Que a Humildade é a chave do Coração, o Coração é a chave do Amor, e o Amor é a chave da Vida, assunto já tratado tanto neste blog quanto no meu canal do Youtube;
  2. Que esta vida é uma grande lição de Humildade, cujo exame final é a velhice, um assunto ainda pendente de reciclagem;
  3. Que a prece mais importante que eu aprendi além da Prece do Senhor foi aquela em que disse “livra-me do cativeiro e livrai de mim os meus cativos“, assunto que desejo trabalhar agora.

Convém-nos lembrar em primeiro lugar que nenhuma ação de prece pode mover a Deus que, em sua perfeição, não pode ser movido a qualquer disposição melhor do que a já informada pela santidade da sua própria Vontade.

Em segundo lugar que a realidade da prece é a da vida de oração, isto é, da consciência da vida na Presença de modo que qualquer movimento exterior da boca ou dos joelhos são apenas índices do movimento interior da alma, e que este tipo de movimento e não aquele é o que importa espiritualmente, de modo que a verdadeira boca e o verdadeiro joelho estão sempre no coração diante de Deus, a quem as aparências não podem enganar a realidade das substâncias.

Assim, toda e qualquer prece tem apenas duas outras duas funções possíveis, descartado o impossível melhoramento da disposição divina: (1) servir para o aumento da consciência humana a respeito da excelência divina, uma legítima função espiritual para a realização da vida na Presença e para o desenvolvimento do dom do Discernimento, e (2) servir para uma prática idolátrica, seja na tentativa de se ter poder sobre o Deus verdadeiro (antropolatria), ou na tentativa de se relacionar com qualquer entidade que usurpe o lugar de Deus, como para obter favores (a idolatria dos Avari).

Dito isso, aprendi em 2017 a pedir a Deus que me libertasse do cativeiro no qual vim a nascer, e isso de todas as formas possíveis (econômica, política, intelectual, e principalmente espiritual), ao mesmo tempo em que reconheci a validade simétrica do meu correspondente dever de libertar quaisquer vítimas que sofram em virtude de uma ambição de poder de minha parte, quer fosse de vontade de poder sobre elas, ou de poder sobre outro objeto que implicasse no uso delas como meios para uma conquista.

A qualidade dessa prece consiste, em primeiro lugar, da observação de que Deus não teve jamais a vontade de me ver nascido num mundo decaído e amaldiçoado, tanto que posso contar com a sua Graça para me libertar de tal estado, no mínimo através do decreto da morte deste Corpo de Queda.

Em segundo lugar, consiste na identificação da origem do mal no mundo na ambição humana de poder. E, nesta linha, na desproporção que há entre a luta contra o mal fora de mim, que resulta na impotência da Revolução Exterior, a utopia de reformar o mundo, e a luta contra o mal dentro de mim, que resulta na verdadeira vitória do Amor através da Revolução Interior, a reforma do homem.

Reconhece-se, assim, através desta prece, que apenas Deus tem a autoridade e o poder de derrotar o mal, cabendo-nos desejar uma salvação que parte sempre da sua Graça, e então negar a participação voluntária nas Obras da Carne através da renúncia de toda forma de poder originada da nossa ambição pretensiosa.

Essa prece nos permite viver de forma mais relaxada e dócil, aceitando e confiando na Providência com a segurança de quem já se desarmou interiormente de todo espírito de rebelião e de desejo desregulado de poder, isto é, de querer atuar para além do que é determinado pelo estado de coisas ditado pela circunstância governada pela mesma Providência na qual se decidiu confiar.

Essa é a justiça que os Noldor, os Príncipes, fazem ao reinado espiritual do Rei dos Reis, fiéis à promessa da sua eleição para um reinado junto ao seu soberano, no tempo e no modo corretos, conforme a pureza do desejo do Espírito Santo de Deus.

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