Um dos pensamentos que me ocorreu enquanto eu trabalhava na avaliação do livro O fim da infância para o Livro das Tendências foi o de que Stormgren, o Secretário-Geral da ONU, encarnou perfeitamente o espírito de Esaú quando defendeu a política de Karellen pelo motivo de que agora a humanidade tinha o seu pão garantido.
Não é disso que se trata toda a tradição ancestral contra Deus? Em buscar garantias contra a necessidade da dependência do Amor do Criador?
Esaú é, assim, o sucessor espiritual de Adão, assim como Stormgren. Por outro lado, Jacó foi o antecessor espiritual do segundo Adão, Jesus Cristo, por confiar na herança do verdadeiro Pai.
Esaú confiou na virtude de Isaac, mas o valor deste sempre esteve na bênção divina. O primogênito falhou ao confiar na força da carne e do sangue, crendo-se superior ao caçula por ser popular com seu povo, um grande guerreiro, um caçador, enquanto o caçula Jacó secretamente era um adorador mais perfeito da verdadeira fonte de toda a força, o Amor de Deus. Quando Esaú vendeu seu direito de primogenitura por um prato de lentilhas, creu que lhe valia muito mais o seu poder pessoal do que a justiça da eleição divina. Justificou-se, assim, a sucumbência do mais velho diante do mais novo.
Voltando ao livro e indo mais além, a promessa do progresso transhumanista é justamente a realização daquela emancipação desejada por Adão e Esaú, para conquistar uma suposta vida independente e emancipada do Amor de Deus. É o ser humano disposto a vender a sua herança como criatura feita à imagem e semelhança de Deus para obter a ilusão de uma libertação através de garantias e seguranças falsas.
Por esta razão é que devemos fazer um elogio do maravilhoso dom da Paixão (v. Capítulo 12 de Monadofilia). Com a Vigilância que nos permite entender o fundamento espiritual do Sistema da Besta, e com o Discernimento que nos deixa distinguir entre as opções espirituais, podemos aceitar os pesados decretos decorrentes da Maldição de Gen 3 de tal modo que quando um Karellen vier nos oferecer algo como a transcendência da condição humana amaldiçoada, nós saberemos honrar o Eterno recusando essa suposta “salvação”.