Os Intelectuais e a Sociedade, livro por Thomas SOWELL

No mundo de Sowell o ser humano vive sob uma condição trágica inescapável, diante da qual a solução mais responsável se dá através da observação da experiência e do costume, e da preservação da liberdade individual de atuação em defesa dos interesses próprios. É, assim, um autor conservador e liberal, uma combinação típica nos quadros da direita moderada.

Se nós estivéssemos presos a esta realidade que Sowell descreve, dificilmente haveria uma solução política e social melhor do que a que ele descreve.

Acontece que nós não estamos estamos presos, porque a perpetuidade dessa condição é fruto da volição humana.

Toda a discussão do mérito dos argumentos de Sowell, portanto, é posterior e, na verdade, desqualificada por esta questão prévia que sustenta a validade da sua posição: o ser humano vive, de fato, numa condição trágica?

Não posso, ao mesmo tempo, invalidar a premissa da visão trágica de Sowell, e aprovar a solução que ele propõe como corretas desde que esta mesma premissa fosse válida.

Toda a discussão econômica, seja do ponto de vista socialista ou liberal, gira em torno do fenômeno da Escassez. Esta, por sua vez, é gerada pela condição humana que combina recursos limitados com desejos ilimitados. Quando enxergamos a Escassez como um fato inescapável e incontornável, dirigimo-nos às respectivas soluções econômicas para esse problema humano. Porém, se a Escassez é produzida por uma condição arbitrada pela vontade humana, cabe àqueles que legitimam e aprovam a produção dessa condição o dever de solucionar o problema que foi produzido pela ação ou pelo aval do seu arbítrio.

É claro que, já dado o nosso nascimento nessa condição, convém organizarmos a sociedade e a economia do melhor modo, e a partir deste ponto podemos concordar indefinidamente com Sowell, bem como com qualquer outro pensador dos problemas sociais e econômicos, sobre quaisquer pontos que entendermos convenientes.

Mas essa discussão jamais deve superar a importância da premissa básica, que é a da discussão da responsabilidade humana pela perpetuação da condição que gera o fenômeno da Escassez.

Espiritualmente, pouco importa como decidimos carregar a nossa cruz na contingência desta vida limitada, se de um modo mais liberal ou socialista, mas importa muito entender como viemos parar nessa condição e, principalmente, saber que somos responsáveis pela continuidade ou pelo rompimento com o costume que gerou essa realidade, ou seja, o Pecado Original.

Quem quiser entender a prioridade desse entendimento da origem da condição humana na Maldição de Gênesis 3, leia a Introdução ao meu livro Monadofilia, especialmente onde explico como nós nos acostumamos, sendo criados em cativeiro, a entender como normais e legítimas as condições de Causalidade, Irreversibilidade e Escassez.

Onde o autor mais acerta, no contexto da sua lógica da visão trágica, é na observação de que toda concentração de poder gera mais corrupção e injustiça, bem como na constatação da assimetria entre o poder de influência dos intelectuais e a sua responsabilização profissional.

Outro acerto de Sowell é a denúncia da Presunção dos intelectuais de forma geral, pela sua incapacidade de reconhecer que há uma massa enorme de conhecimentos particulares distribuídos dentro de uma sociedade e que são totalmente ignorados pela intelligentsia.

É um livro aproveitável no contexto particular da sua discussão, mas preso na Dialética do Ouroboros desde uma perspectiva mais ampla. E diante disto eu lhes pergunto: que interesse temos em soluções particulares que constituem a continuidade de um problema geral muito maior?

O autor denuncia o empreendimento dos intelectuais ungidos contra a coesão, a unidade e a integração social. Talvez deseje solucionar o problema de Babel? Estaria Sowell ciente de que Deus mesmo instalou a discórdia para impedir a consecução dos planos dos Usurpadores? Estaria ele na posse do testemunho de Jesus que disse que não veio trazer a paz, mas a espada, e que os inimigos do homem estão na sua própria casa? Estaria Sowell lembrando da profecia apocalíptica que declara que a Grande Tribulação tem início justamente com a declaração de “paz e segurança”, ao que no entanto se seguirá uma “repentina destruição”? É claro que não. Sowell não dá o testemunho do amor a Deus em primeiro lugar, porque é um humanista. O homem em primeiro lugar, e Deus, se tem algum valor, só pode ser porque criou o homem, é claro.

Por que Sowell não admite o ônus da parte dos proponentes da bondade do status quo? O ser humano sendo um animal simbólico que busca o sentido, precisaria e poderia ser satisfeito na sua carência de significado pela demonstração do grande mérito dessa maravilhosa ordem social e histórica que Sowell defende.

O que vemos aqui é a manifestação de um dos lados da disputa na dinâmica da Dialética do Ouroboros: Sowell, tomando o lado do Behemoth, acusa a loucura do Leviathan. Tem suas razões, mas não tem razão. A vitória do seu argumento depende da restrição da visão de mundo fatalista que ele defende. Vencida essa escolha, que afinal de contas não passa de uma crença entre tantas outras, todo o seu empreendimento cai por terra.

Nota espiritual: 4,0 (Moriquendi)

Humildade/Presunção6
Presença/Idolatria3
Louvor/Sedução-Pacto com a Morte5
Paixão/Terror-Pacto com o Inferno5
Soberania/Gnosticismo2
Vigilância/Ingenuidade3
Discernimento/Psiquismo4
Nota final4,0

Um comentário em “Os Intelectuais e a Sociedade, livro por Thomas SOWELL

  1. Palestine, a post WWI British Mandate terminated in 1948 by Prime Minister David Ben Gurion. Arab & Muslim countries must validate the Israeli victory over the British which forced them to return their mandate back to the UN in 1947 after Begin’s Irgun blew of the British military headquarters located in the King David Hotel in Jerusalem.

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