Um tema recorrente volta à minha mente nestes dias, e evidencio essa repetição quando penso, por exemplo, em fazer análises e comentários a certos filmes e séries que assisti recentemente (O Iluminado, Drácula de Bram Stoker, e White Lotus): o tema da inocência da mulher, e do dever espiritual do homem.
Quem me conhece sabe que não costumo ligar muito para a temática do gênero, ou pelo menos não costumava até receber algumas influências, como da filosofia de Weininger.
Mas a própria Bíblia nos chama a uma reflexão sobre essa diferenciação naquela importantíssima passagem de Gênesis, Capítulo 3, quando a Maldição é distinta aos praticantes da traição contra o Amor divino. A mulher, particularmente, é condenada às dores do parto, e mais, “teu desejo te impelirá ao teu marido, e ele te dominará“.
Isto quer dizer que o domínio do homem sobre a mulher não é natural, ao menos não no sentido da realidade preternatural do Éden, no Paraíso inicialmente designado por Deus. Esta relação de domínio já é determinada por uma situação de decaimento espiritual, como consequência da rebelião contra Deus.
E assim como o homem desde Adão tinha a responsabilidade de servir como testemunha da Redenção, ele continuará sendo o responsável por isso até o Fim do Mundo.
Estamos entrando na Semana Santa, e assim nos convém lembrar do seguinte: com a exceção do discípulo amado, o jovem João, quem ficou com Jesus até a morte? Quem alcançou esse grau de fidelidade? Foram as mulheres, especialmente as Três Marias: a sua mãe, Maria Madalena, e Maria de Cléofas.
Qual é a mensagem por trás dessa realidade?
Quando recebe a oferta da verdadeira Redenção, aquela que Jesus ofereceu, qualquer mulher é capaz de ser fiel a Deus: tanto a Virgem, quanto a Prostituta, quanto a Esposa e Mãe. Esse é o nível da universalidade da Salvação, do poder do Amor divino, para todos os casos de desobediência e de envolvimento com as mentiras do Ouroboros.
Os grandes traidores, por outro lado, são todos homens, Adão, Judas, e o Anticristo, vilões com outros planos, incapazes de se render ao Amor divino.
Simbolicamente, a força ascendente, o Masculino, é freado e impedido de completar seu curso pela força descendente, o Feminino, que lhe seduz e prende abaixo. Esse objeto que gera a força descendente, porém, é sem forma própria, pois representa uma pura possibilidade. É Eva antes da Queda: pode ser irmã e amiga, tanto quanto esposa e mãe. A determinação da forma sedutora é gerada pela vontade masculina. Essa mesma vontade pode desejar a ascenção e a redenção, ou a traição e a decadência. A mulher acompanha a decisão masculina, e toma a forma produzida pelo idealismo do homem. É assim que o Ouroboros destrói o homem: ele faz este desejar a realização de seu poder de usurpação, e a falsa imortalidade das Obras da Carne. E a mulher é o objeto da realização desse poder, não porque possua essa forma, mas porque possui a característica passiva de aceitar qualquer forma idealizada por aquele a quem quer agradar, o homem. Isso se dá por razões metafísicas, porque para que a Liberdade seja real, é preciso que a possibilidade da rejeição do Amor divino seja real. Por isso essa qualidade indeterminada do Feminino serve para a realização da vontade do Masculino. A qualidade dessa relação entre os elementos ativo e passivo não alteram, porém, a integridade da liberdade tanto do homem quanto da mulher. A mulher continua livre e responsável, tanto quanto o homem, por sua própria decisão. Mas ela não é responsável por dar-se uma solução que só pode ser eminentemente idealizada pelo homem. Assim, Eva errou ao ouvir e crer na Serpente, mas ela não se deu essa falsa imagem da verdade. E na sua inocência ela poderia (e deveria) ter sido corrigida pelo testemunho redentor de Adão, se ele tivesse esse desejo. A partir da iniciativa do homem, de sua idealização, a mulher livremente escolhe assentir ou rejeitar, mas ela não cria por si mesma os elementos da sua decisão, que lhe são postos. Eva, culpada por ouvir e acreditar na Serpente, foi submetida à vontade do homem, mas este também foi culpado por ouvir e acreditar em sua mulher. As duas liberdades existem, mas a hierarquia das responsabilidades é clara.
Isso se confirma hoje mesmo, até depois das revoluções liberais dos costumes. O que faz afinal a feminista que quer se libertar de Gen 3? Ela apenas confirma a sua submissão espiritual, querendo ser como o homem, seguindo o seu guiamento moral em busca de emancipação, independência, poder, prestígio, etc. Ela está imitando o homem, está se guiando pelo exemplo dele. Ele quer poder? Ela quer poder. Ele quer fama? Ela quer fama. Ele quer prazer? Ela quer prazer. Ele quer dinheiro? Ela quer dinheiro.
E se ele quiser a santidade, ela também vai querer. Mas ele precisa querer antes.
A sedução da Serpente faz o homem desejar a emancipação do Amor divino e enxergar na mulher o objeto de realização do seu desejo.
O Hexagrama representa a prisão dos sexos pelo Ouroboros, e o Pentagrama representa a consumação da Queda, o antropoteísmo, a traição e a usurpação, especialmente na consecução do Pecado Original.
O homem é o responsável por realizar esse pacto com a Serpente, e por usar a mulher para a sua finalidade de traição e usurpação. Já apontei como até nos elementos da fecundação nós temos o simbolismo natural dessa relação de poder entre o homem e a mulher, comparando o sentido de vontade ativa representado pelo sêmen, e o sentido da receptividade passiva representado pelo óvulo.
Por mais que a mulher queira a sua liberdade, a Serpente a envolveu no Pacto Ouroboros de tal modo que sua luta é incessante e não tem fim até que o homem, o grande responsável por escolher a usurpação ou a redenção, se digne a mudar de idéia com relação às suas cobiças e ganâncias. Gerando filhos vítimas desse mesmo Pecado Original, as mulheres sofrem: querem seus filhos livres (a “linhagem” da mulher), e pisam a cabeça da Serpente, mas voltam a se submeter aos estúpidos falsos idealismos dos homens, seus pais, maridos e filhos (a “linhagem” da Serpente), e então a Serpente morde seus calcanhares. A linhagem da Serpente é a dos traidores e usurpadores, dos algozes do Pacto Ouroboros, e a linhagem da mulher é a das suas vítimas.
As Três Marias que ficam até o fim com Jesus mostram o que a mulher realmente quer: o testemunho da Salvação, da sua Redenção verdadeira.
Mas dignar-se-á o homem a dar o primeiro passo?
Libertar-se-á ele da sedução da Antiga Serpente, ouvindo o chamado de Jesus?
